Capítulo 34

CIGARRO NÃO É UMA MODA


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ilustração de Kamil Yavuz ©- Turquia

A palavra moda nos dicionários nos leva à : bom tom, canção, cantiga, costume de época, fantasia, figurino, gosto, jeito, jeito de vestir, traje, etc.

foto André Schiliró, publicada na Revista Época

 

Se as pessoas fossem suficientemente esclarecidas sobre a gravidade do problema TABAGISMO, dificilmente uma modelo de sucesso, como a paranaense Caroline Ribeiro, posaria com tabaco nas mãos.

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A modelo Carolina Ilek também se expõe no papel de fumante.

Revista Caras, ed 558, ano 11 no. 29, 16.jul.2004

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A poderosa brasileira Gisele Bündchen, a modelo mais famosa do mundo, aparentemente foi fisgada pela nicotina, tendo Leonardo Di Caprio como o seu par e fumante passivo mais constante. Algum amigo poderia dar-lhe uma força, alertando-a para o tamanho do rombo da canoa em que está embarcada.

A moda, como comumente utilizamos, traduz uma tendência temporária de alguma coisa. Por exemplo, estamos, pelo menos, no Rio de Janeiro aonde vivo, com uma tendência de certos grupos a usarem boné na cabeça, com a aba virada para trás. Isto é uma moda. Pode até ser que quem esteja gostando de usar boné com a aba para trás imagine que isto nunca irá terminar, que sempre se usará boné com a aba para trás. Pode até ser que essa moda dure até o resto de nossas existências, mas o provável é que, de uma hora para outra, surja outra maneira de expressar o " sei lá o quê " que o boné para trás está querendo dizer.

Volto pras minhas lembranças de adolescente, quando houve uma moda das calças "boca de sino". Tinham que cobrir totalmente o sapato. Como calço 45, em mim quase pareciam uma saia. Se a ponta do sapato aparecia, não era uma boca de sino legítima. Estar na moda gera um certo status. Se numa festa você fosse sem boca de sino, sua chance de fazer sucesso entre as meninas era muito reduzida. Agora, se fosse com a tal calça e, ainda por cima, soubesse os passos certos para dançar o Hustle, aí era meio caminho andado, era só correr pra galera. Depois, veio uma moda em que a calça tinha que ser curta, aparecendo o tornozelo e com a boca justíssima. Nova corrida às lojas, pra atualizar o guarda-roupa às pressas, para não parecer "bocomoco".

Um pouco mais para trás, houve o anel com a caveira, do Fantasma. Como me senti bem com aquele anel ! Caía um grampo e eu mostrava o dedo do Fantasma, era a glória. Eu fazia parte de um grupo, do grupo que usava o anel. Como se tivéssemos descoberto nossa identidade, ali existíamos, éramos os que usavam o anel do Fantasma. E nos bastava, não era preciso conversar sobre aquilo, para que serviria aquele anel, o que estávamos querendo dizer com aquele anel, era só usá-lo e ponto final.

O Fantasma, além de acabar com os malfeitores (o que certamente o faria lutar contra os fabricantes de fumo, se estivesse entre nós, hoje em dia) tinha um amor chamado Diana, por quem alimentei uma certa paixão naquela época. Pelo menos, o anel da caveira eu consegui.

Poderia citar aqui uma série de modas e modismos, como biquinis asa-deltas, tênis de cano alto, plástico de boutique no vidro do carro, sem falar nos cabelos (quantas variações). Sou do tempo dos Beatles, com aqueles cabelos longos e lisos, enquanto que o meu era curto e enrolado. A moda era longo e liso. Até henê pedi para minha mãe passar, para ver se conseguia enganar. Jimmy Hendrix não tinha muito ibope com as meninas do meu grupo, apesar de ter sido o maior guitarrista da história do rock.

Jimmy hendrix, the best... Em 69, eu com os meus catorze aninhos, era fissurado pelo som da guitarra do bruto. Nenhum som tirado depois chegou junto...

Outro exemplo de moda, são aquelas calças rasgadas e desfiadas. Dentro em pouco, quem portar uma destas será internado num manicômio, mas durante a moda é super chique andar com o joelho ou um pedaço da coxa aparecendo. É vanguarda total.

A calça rasgada, como a da modelo havaiana Mara Lauren, em breve será lançada no lixo ou cortada para virar um short de jeans.

Todas estas modas, que enquanto estão na moda parecem que nunca vão mudar, tem um tempo determinado (juro que nunca entendi por quem).

O cigarro, no entanto, não é uma moda. O cigarro é um vício. Vício não muda, só aumenta. Se o cigarro não tivesse nicotina, nem estaríamos falando sobre ele agora. A turma teria pitado em 1908 e, em 1909, o cigarrinho já teria sido trocado por outra coisa.

O cigarro também não mostra uma tendência de um grupo, já que encontramos fumantes em quase todos os grupos socias: caretas/doidões, médicos/clientes, homens/mulheres, jovens/tiosukitas, mendigos/magnatas, artistas plásticos/operadores da bolsa de valores, ninfetas com seus cachorrinhos brancos/espadas com seus pit-bulls, etc. Portanto, nem para isto o fumo serve, nem para vocês marcarem um momento, nem para vocês entrarem com as suas marcas na parada.

Quando vejo as paredes dos prédios da cidade grafitadas, nelas eu sinto a enorme necessidade de adolescentes terem a sua marca reconhecida. Normalmente a marca é o seu próprio nome, ou melhor, o seu codinome (o código do seu nome). Ouço ali, um grito, um berro de forças da natureza, clamando reconhecimento a uma sociedade surda. É mínimo o estímulo à criatividade na maioria das casas e escolas de vocês. Além do que, nesta sociedade individualista de início de século, o reconhecimento do valor do outro não é um esporte de massa. Pois bem, acabam muitos adolescentes falando para as paredes, com as suas latas de tinta em spray e tendo a admiração apenas dos seus iguais. Fumar, creio também ser uma forma inútil de ter-se seu valor reconhecido, ao contrário, parece-me mais um atestado de falta de valor: " Já que sinto que não valho nada mesmo, quem sabe se eu fumando não passo a merecer a atenção e a admiração de alguém? ".

Durante uma entrevista coletiva em que respondia às questões sobre o prêmio Grammy que acabara de receber (final de fevereiro de 99), pelo disco Quanta ao vivo, Gilberto Gil, nosso ministro da cultura, revelou como havia decidido parar de usar tabaco: "o Stevie Wonder virou-se pra mim e disse: Gil, pare de fumar, Gil. Chega!!".

Outra ilusão que leva adolescentes a fumar é a de se tornarem mais velhos. Seria como que um passe de mágica para entrar na fase adulta. Esta ilusão até pode já ter tido algum efeito. Hoje em dia, com o sucesso das campanhas publicitárias pró-fumo, existem tantas crianças fumando que é ridículo associar este vício a ser mais velho. Uma pesquisa feita no Sul do país revelou que 90% dos meninos de rua de Santa Catarina são fumantes. A vontade de querer ter outra idade é quase uma marca dos seres humanos. A Lívia, minha filha, quando tinha 5 anos, às vezes queria me fazer parecer que já tinha oito, meus pais que já passaram dos setenta, vivem tendo atitudes de quem tem quarenta e eu, que passei dos quarenta, ora gostaria de ser adolescente como vocês, ora sonho com a minha aposentadoria, quando iria viver cuidando das minhas plantas. Uma coisa é certa: o fato de alguém fumar, não quer dizer que ele está mais velho, ao contrário, psicologicamente até indica uma certa regressão, volta-se a ser neném, em busca daquele seio materno que lhe acalmava os nervos e saciava a fome.

O marinheiro Popeye, com seu onipresente cachimbo, influenciou legiões de crianças, por décadas à fio. Em diversos episódios da série de desenhos do sailor man, ele chegava até a aspirar o poderoso espinafre via cachimbão... Foi uma das maiores associações entre agricultores de que se tem notícia. Plantadores de tabaco e de espinafre fizeram uma super parceria para comercializarem os seus produtos. Popeye foi um herói perfeito para as vendas.

Quanta maldade contra a garotada já foi cometida, até o Barney Rubble foi usado para enganar...


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