AS CAMPANHAS PUBLICITÁRIAS, AS
FAMIGERADAS PROPAGANDAS DE TABACO
Creio
que só haja duas coisas infinitas: o cosmos e a estupidez humana. Quanto ao cosmos, eu
ainda tenho alguma dúvida.
Citação
de Albert Einstein, repassada pelo epidemiologista Guido Palmeira
Uma das principais razões para o tabagismo ser a mais
importante doença no mundo atual, deve-se ao fato de existir grupos poderosos interessados
em produzir e vender tabaco. E, para isto, contam com o prestimoso auxílio de legiões de
publicitários, sempre, e cada vez mais, criativos.
Os micróbios que causam as doenças infecciosas, que
assolam principalmente os países em desenvolvimento, não recebem ajuda especializada em
marketing, vendas, propaganda, antropologia, psicologia, sociologia, etc. Eles têm de se
virar sozinhos, contando apenas com as más condições de saúde e de educação das
populações destes países. O tabaco, entretanto, para exercer a cada dia mais de seu
cartel de maldades, precisa de muita ajuda externa.
As campanhas publicitárias tem como base o desejo. As
mensagens são quase sempre com algo que gostaríamos de ter ou ser e os publicitários
tentam fazer com que o produto que eles queiram vender passe a impressão de que uma vez
possuíndo-o, o sonho tornar-se-á realidade. Os anúncios de cigarro não querem
convencer vocês de que fumar é bom, para isto utilizando-se de argumentos racionais. Os
publicitários querem sim persuadí-los, fazer com que
vocês passem a querer fumar sem uma clara percepção do porquê.
Por exemplo, os homens, em sua tradicional vocação para
aumentar a espécie, gostariam de ter uma companhia feminina para esta tarefa. De
preferência, uma companhia feminina de parar o trânsito, linda como ela só. O que as
imagens do tabaco passaram por décadas: "fumem o nosso cigarrinho e vocês ficam
poderosos". Como podiam fazer isso? Colocavam uma mulherzona lindaça acendendo o
cigarro do otário, de preferência, fazendo beicinho.
No início do século 20, o objetivo da indústria
tabagista era vender cigarros apenas para o homem. Portanto, a imagem da mulher era
utilizada exclusivamente por ser o maior objeto do desejo masculino.
Lembrem-se que, naquela época, não havia televisão,
nem outdoors, nem reloginhos de rua que marcam hora e temperatura. Além de algumas poucas
revistas e jornais, os próprios maços de cigarro eram o grande chamariz. Eis aqui,
alguns exemplos da criatividade do pessoal de marketing do início do século passado:
Cigarros Dalila
Deve ter sido o maior furor da
época. A Dalila completamente nua, quando as mulheres ainda iam à praia
vestidas. Coberta apenas por um tecido
transparente, fumando com a mãozinha direita.
Cigarros Salomé
Morena de grandes olhos negros e os lábios pintados em
forma de coração. 1918.
Cigarros
Primavera
Mulher voando nua,
a libélula envolta por tecido transparente.
Cigarros La
Pavlova
Homenagem a uma bailarina russa, Ana Pavlova.
Cigarros Elite
Extrapola, coloca duas mulheres,
uma menáge à trois (incluindo o fumante). Está escrito que
"era o cigarro preferido dos salões da sociedade".
Cigarros Flirt
Mulher sob ventania, com as roupas tremulando e uma
"sombrinha" à mão. Olha com o rabo do olho, com ares de desprotegida. Década
de 20.
Cigarros
Favoritos
Mulher solitária dirigindo
um imenso carro vermelho conversível, dois sonhos masculinos. Década de 20.
Cigarros Yolanda
Louraça de sombrancelhas negras, faz biquinho.
Diz-se que era conhecida como a "loura infernal".
Cigarros Marly
Mulher estilo cigana, com olhos entreabertos
e colo exuberante.
Cigarros
Eldorado
Mulher do campo.
Levanta displicentemente a saia do seu vestido vermelho, com o fungar do
bichano sobre sua perseguida.
Anos 40.
Ainda na fase _
"cigarro é coisa de homem" _ , temos os cigarros
Columbia, os primeiros maços embalados em papel
celofane e os mais caros do mercado da época. O desenho no maço era um navio de guerra
com canhões, singrando um mar revolto. Havia também os cigarros
Jockey Club e
Turfe Club, explorando a paixão que
muitos tinham pelas corridas de cavalo. Já os maços de cigarros
Fulgor tinham até cheques
de cinquenta mil réis dentro de maços, para alguns sortudos. Existia uns maços
artesanais que podiam vir com o nome do fumante estilizado, eram maços personalizados.
Ah! Ia
me esquecendo dos cigarros Veado, com o desenho do animal estampado.
Bom, esta forma de atrair o incauto, usando estas
imagens femininas e outras que atraiam o universo masculino, foi pouco a pouco se modificando. Uma vez que,
a partir de determinado momento, especialmente no pós segunda guerra mundial, as mulheres
passavam a interessar às indústrias do fumo, não mais apenas como inspiração para as
vendas, mas como consumidoras, logo no início dos anos 50. Passado o nervoso
da guerra, mundo novo, novas e grandes mudanças nos costumes, etc.
A partir do início dos anos 50, começaram a chegar ao
Brasil os cigarros importados, sendo o primeiro deles o
Camel (com a figura do camelo), vindo logo
após o Chesterfield e o Pall Mall. Aliás, o mercado de cigarros brasileiro foi perdendo a sua identificação com a língua
natal, a portuguesa, passando a adotar a da nave mãe. Certamente, passaram a achar
ridícula a possibilidade de manter-se denominações tão terceiromundistas como
Favoritos, Elite, Salomé ou Veado. Quando eu tirei a minha carteira de motorista, o local
que a gente levava o carro para trocar o óleo do motor chamava-se "Troca de
óleo". Agora, os postos modernosos têm um setor denominado "Technical
Oil Change Center". Dando um salto para os dias atuais, a mudança já
começa na apresentação do tipo de cigarro: slims, ultralights, low tar, one, box,
flip top, etc. Para compensar a pobreza dos Delícias de Cuba e Columbias da vida,
criaram: Charm, Carlton, Free, Hollywood, Ritz, Hilton, Plaza, Derby, Minister,
Belmont, Chanceller, Galaxy, Parliament, Dallas, Capri, Palace, Lark, Mustang, etc.
Provavelmente,
graças à essa justa preocupação, hoje somos um país que pronuncia bem Grammy,
Oscar, MTV, McDonald's, beach soccer, delivery, download, reply, double-cheese ou, pasmem,
George W. Bush.
Voltemos, ora pois pois, à nova fase _
"cigarro é coisa para mulher e para homem". Os anúncios passavam a destacar a presença de homens em
situações de extrema virilidade veladas ou explícitas, exemplarmente demonstrada nos
anúncios dos cigarros Marlboro, com aquele final apoteótico que dizia "Terra de Marlboro,
onde os homens se reúnem". Este tipo de mensagem atinge o inconsciente tanto
masculino quanto feminino da época. Os homens se ligavam no macho por se identificarem
com ele, quererem ser como ele, e, as mulheres, por desejarem tamanha manifestação de
masculinidade, para protegê-las e gerarem crias fortes e saudáveis. Nos nossos
imaginários, se fumasse tal marca se tornaria um herói corajoso e belo e, no caso das
mulheres, fumar aquela marca certamente lhe garantiria um companheiro com aquelas
características.
Sempre me inquietei com a imensa quantidade de cavalos
dos filmes e fotos das propagandas do cigarro Marlboro. Tudo bem, que o
império da vez, aquele que está ditando as regras, é o americano. Quem melhor representa
o homem americano que o cavaleiro_cowboy? Mesmo assim, achava que era cavalo
demais. Os anúncios, eram para vender cigarros e não impor o american way of life...
Um dia, resolvi abrir meu dicionário de símbolos, vício de meu tempo de médico homeopata
unicista, e
procurei o que lá havia sobre cavalo. Talvez tenha encontrado o motivo para a turma da publicidade do Marlborão colocar tanta imagem eqüina _
o cavalo
representa, nada mais, nada menos do que:
A IMPETUOSIDADE DO DESEJO.
A cavalaria vai em direção aos
maços de Marlboro, mantendo sempre cavalos disponíveis para vocês, adolescentes...
Ferrari, 2003
Portanto, o cigarro mais vendido
do mundo, produzido pela maior indústria tabagista do mundo (Phillip Morris), quer
fazer-se desejável e usa o próprio símbolo do desejo para influenciá-los, bem lá no
fundinho do inconsciente de vocês.
AFP - 17/06/2001
Hélio Castro Neves, vencedor do GP de Detroit (USA) de Fórmula Indy, pilotando
carro com centenas de cavalos, comemora enrolado com a bandeira brasileira, expõe o troféu de vencedor,
porém, não esquece de deixar visível a logomarca do patrocinador. Assim, ao invés de
associarmos o fumo à imagem de um veneno, que mata, associamos, de forma totalmente equivocada, o
fumante à imagem de um
vencedor.
AFP
Yamaha, 2004
Valentino 'Gauloises'
Rossi, o maior piloto de motovelocidade do mundo, vendendo os
cigarros
franceses Gauloises
A evolução dos tempos, com as correspondentes
mudanças nos mais variados campos do conhecimento humano, foram sofisticando a
agudeza do publicitário em estar em sintonia perfeita com os desejos, ocultos ou não, da
massa das pessoas. A grosso modo os desejos não se alteraram muito, apesar do correr do
século. Carros bonitos, mulheres bonitas (já agora acompanhadas de homens igualmente
bonitos), ambientes luxuosos, etc.
Os anos setenta trouxeram uma tendência mais clara
no Brasil, a de
atingir-se um público mais jovem, com campanhas de grande apelo para a audácia, a
coragem e as vitórias esportivas.
Vocês, adolescentes de hoje, não vivenciaram as memoráveis
vitórias de Emerson Fittipaldi, pilotando uma Lótus preta, cor do maço dos cigarros
John Player Special, sendo o primeiro campeão de Fórmula I brasileiro; aliás por falar
no Emerson, li outro dia no jornal O Globo que, além de ser o produtor de laranja que é,
quer tornar-se importador de charutos (!!).
Emerson Fitipaldi
A Lotus preta_ cigarros John Player
Special (JPS)
Durante algum tempo, o nosso segundo campeão mundial de
Fórmula-1, Nelson Piquet, também pilotou uma Lotus, só que amarela, já que o
patrocinador mudara. Passara a ser o cigarro Camel. Para a escuderia Lotus, pouco
importava ter uma tradição na cor de seus carros, quem mandava era a indústria de
cigarro e estávamos conversados... Nelson Piquet ainda participou, anos depois de abandonar
a F-1, das "24 horas de Le Mans", com a marca
Hollywood no peito, assim como Maurício
Gugelmin e Gualter Salles na Fórmula Indy voaram baixo sob o mesmo patrocínio.
Nelson Piquet
A Lotus amarela_
cigarros
Camel
Este filão das provas de velocidade, continua sendo
explorado até os dias atuais. O circo da Fórmula I, assim chamado por correr os quatro
cantos do mundo tal qual os grandes circos internacionais, tem nos fabricantes de cigarros
seu principal patrocinador. Um de nossos mais completos pilotos da história, Ayrton
Senna, foi tricampeão de Fórmula I, pilotando carros patrocinados pelos cigarros
Marlboro, aliás os mesmos que patrocivam Emerson Fittipaldi na Fórmula Indy, campeonato
ainda restrito aos EUA, Canadá e Austália e Brasil, mas que vem crescendo bastante. A
Philip Morris, fábrica dos Marlboros, já patrocinou ( ou ainda o faz ) Senna, Emerson ,
Raul Boesel, Rubens Barrichelo e André Ribeiro, Hélio Castro-Neves e Gil de Ferran. Em
Setembro de 97, o piloto Tony Kanaan ganhou o título da Fórmula Indy Lights, com o mesmo
patrocínio. Isto, sem contar com o apoio ao Alexandre Barros, nosso campeão de
motociclismo.
O campeão Ayrton Senna corria com os carros da
escuderia Williams, a sua última equipe, em 1994, patrocinados pelos cigarros Rothmans e
tinha grandes chances de tornar-se tetracampeão mundial, divulgando mundo afora mais uma
marca de cigarros.
Ayrton
Senna
levou as imagens dos cigarros Camel, Marlboro e Rothmans pelos quatro cantos do
mundo, a bordo de Lotus, McLarens e Williams
No ano 2000, a participação do piloto Rubens
Barrichelo, no comando de uma Ferrari, seguramente encheu o Brasil com imagens dos
cigarros Malboro. Parecia haver surgido o substituto do Senna, para a exploração do
marketing da maior indústria de tabaco do mundo. Do ponto de vista da saúde pública
brasileira, a nossa sorte é que ele não ganha quase nunca. Do contrário, a marca
Marlboro teria sido explorada até vomitarmos.
A NET ( TV a cabo brasileira ) e os
cigarros Malboro caíram sobre Rubens Barrichelo, como formigas num pote de mel. O
Rubinho-lindinho-engraçadinho não aparecia mais sem o bonezinho na cabeça.
Quem vocês acham que podiam ser influenciados por ele?
Rubinho, versão 2001, depois da lei
federal brasileira, que proíbe a propaganda de cigarros na mídia, seguiu, por um breve
tempo como garoto-propaganda da empresa de TV à cabo, porém, mostrando a bela testona,
ao invés da marca do cigarro. Foi preciso de uma lei para o bom senso ser utilizado.
Curioso, que depois disso, ele logo deixou de ser garoto-propaganda da Net. Na verdade,
ele só interessava enquanto tinha o bonezinho com a logo do Marlboro. Sem ele, não tinha
mais nenhuma graça.
Para os
profissionais de saúde brasileiros, para os ministros da saúde, do meio ambiente e da
fazenda brasileiros e para os que precisam enfrentar filas nos centros de saúde e
hospitais brsileiros, graças a Deus que quem chega na frente é sempre o alemão.
Problema fica para os ministros alemães da saúde, do meio ambiente e da fazenda.
É bom chamar a atenção de vocês, para o fato de que,
em algumas pistas européias, os carros de corrida tem que retirar os nomes dos cigarros
da lataria, dos macacões dos pilotos e da equipe, assim como dos outdoors espalhados pela
pista, uma vez que lá já se conseguiu leis mais severas para evitar a divulgação de
algo que, volto a lhes assegurar, é terrível para a saúde. É válido o debate sobre a
liberdade de expressão que, estaria em jogo neste momento, porém, me arrisco a dizer que
não consigo vislumbrar uma saída ética para este impasse. Há já alguns anos, nas
corridas de Fórmula I disputadas na Alemanha as pistas estão livres das marcas. A partir
do ano de 1996, no Grande Prêmio da Inglaterra, em Silverstone, também houve a mesma
proibição. A França, com o seu circuito de Magny Cours, também tem servido de exemplo
para o mundo.
Folha de São Paulo, 13/02/2004
Enquanto isto, como a propaganda
tabagista está sendo proibida nas principais pistas da Europa, os
espertalhões da indústria do fumo forçam os dirigentes da Fórmula 1 a
buscarem novos locais para receberem as provas de automobilismo. Claríssimo
está, com a garantia (se danem os seus habitantes e os que assistirem às
imagens) de que a publicidade de cigarros seja totalmente liberada sem
restrições. O Bahrein construiu um autódromo às pressas e outros estão em
vista de surgirem na Índia, nos Emirados Árabes e em Hong Kong.
Podium do Grande Prêmio
da França, em Magny Cours, 02/07/2001.
Graças ao discernimento e à
lucidez de parlamentares franceses, esta cena, no podium de Magny Cours, França,
difundida em jornais de todo o mundo. Em pelo menos em cinco locais diferentes, os
macacões e bonés dos pilotos da Ferrari não expuseram a marca do patrocinador, o maior
matador de pessoas do planeta...
Podium do Grande Prêmio
da Inglaterra, 15/07/2001.
Menos de duas semanas depois, na
Inglaterra, a logomarca do patrocinador dos pilotos Ferrari também desapareceu do mapa.
Acompanhem as corridas na Malásia, Hungria, Brasil, etc. e vejam o que acontece...
sobre foto da Associated Press (20/jul/2003)
Rubinho foi o vencedor do Grande
Prêmio de Silvestone, Inglaterra, de 2003, mas onde está a palavra MARLBORO no macacão
do bonitão? Aquela que ele portava no Grande Prêmio do Brasil do mesmo ano, aquele em
que o nosso governo editou medida provisória adiando a lei brasileira que proibia
publicidade na Fórmula 1 para 2005?
Michael Schumacher usou
macacão sem a palavra Marlboro, na penúltima prova do ano de 2003, em Indianápolis,
nos Estados Unidos. Nesta
prova ele obteve importante resultado que o deixa a apenas 1 ponto de sagrar-se
hexacampeão mundial de F1. A marca do cigarro não fez nenhuma falta à sua alegria e a
sua vitória sem estampar a logo da Philip Morris deixou de influenciar milhões de jovens
pelo mundo todo. Nos EUA, França e Inglaterra, os carros têm de correr sem anunciar o
nefasto. Entretanto, nos países menos informados ou mais colonizados, as indústrias de
tabaco fazem carinha feia, biquinho, batem os pezinhos no chão e ameaçam colocar os
colonizados travessos de castiguinho, escrevendo 100 vezes no quadro negro: ' Titia
indústria mandou deixar os anúncios de cigarros nos carrinhos, macacões e capacetes, ou
não tem mais brincadeirinha '.
No final da década de 90, o Sr. Max Mosley, presidente
da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), declarou à imprensa internacional
que, se a pressão da União Européia continuasse desta forma (evolui um grande movimento
visando impedir a propaganda de cigarros em toda a Europa), como a indústria do cigarro
é a maior patrocinadora do circo, ele ameaça transferir todas as provas européias para
a Ásia. Um cliente meu que é inglês, me revelou algo que eu desconhecia (que pode não
querer dizer nada e pode dizer tudo): o Sr. Mosley é filho de Oswald Mosley, a maior
liderança do British Nacionalist Party (Partido Nacionalista Inglês), ou seja, o ramo
ingles do partido nazista. Pesquisas realizadas na Europa mostraram uma incidência
significativamente maior de adolescentes fumantes entre adeptos da Fórmula I, do que
entre os que não acompanham as corridas. Aliás, nada mais óbvio, porque parece estar
claro que a indústria de cigarros não aplica tamanha verba publicitária (dizem que são
quinhentos milhões de dólares por ano), se este esforço não tivesse um retorno
garantido. Não sejamos ingênuos, esta indústria está pouco se lixando para os
esportes, ela usa estes palcos apenas para influenciar decisões.
Apesar da pressão
da indústria do tabaco, via Federação Internacional de Automobilismo,
Kimi Raikkonen
venceu o GP da Turquia de Fórmula I,
em 22/08/05, sem que o seu bólido Mc Laren-Mercedes ostentasse a logo dos
Cigarros West. O GP turco é mais um em que não é permitida a propaganda de
fumo.
Aliás, o nosso cartunista
Kamil Yavuz, que é
turco (de Istambul), fez este pequeno cartoon para manifestar a sua opinião
sobre o patrocínio das corridas pela indústria do tabaco.
Um dos principais desejos ocultos da humanidade é o
poder. Este pode ser representado pela POTÊNCIA e a virilidade. A capacidade de gerar
filhos, de engravidar a fêmea, seria uma destas potencialidades. O Doutor em comunicação pela Universidade de São
Paulo, Flávio Calazans, autor do livro PROPAGANDA SUBLIMINAR MULTIMÍDIA nos chama a
atenção para, no maço de CAMEL, haver a imagem de um
dromedário e não de um
camelo. Seria absolutamente impossível que os responsáveis pelo desenho do Camel
desconhecessem que um camelo tem duas corcovas. Já a imagem utilizada daria a entender
uma camela grávida, portanto, sendo uma imagem diretamente direcionada para os nossos
inconscientes, fume CAMEL e torne-se potente. Quando lançado, o público-alvo do
CAMELeram homens de 50 anos...
Mensagem para o inconsciente das
pessoas
A mesma pergunta, o especialista em comunicação,
Flávio Calazans, nos faz: " porquê as letras L e B, do maço de Marlboro, apesar de
minúsculas, estarem maiores do que o M, maiúsculo? ". Será que os idealizadores de
uma das logomarcas mais famosas do mundo não saberiam escrever?
Juntas, as letras L e B evocariam a imagem de um pênis. O falo (pênis) funciona como um símbolo de poder, tal como uma espada.
extraídas da page
da Trip
Por aqui, a marca que mais buscou a identificação com
o público jovem foi a Hollywood. Fora dos tempos de crise econômica, sem o "down
trading"(opção por marcas mais baratas ou pelas contrabandeadas), era o cigarro
mais vendido no Brasil. Para manter esta liderança e penetração entre vocês, emergiu
como a grande benfeitora do Rock, patrocinando por longos anos o maior evento nacional
regular de Rock, o Hollywood Rock, além de manter um patrocínio semanal na televisão, que
também levava o nome de Hollywood Rock. Primeiro a marca prometia o sucesso, depois com a
profusão de informações a respeito dos males do fumo, passou a não dizer mais nada.
Seus anúncios passaram a ter apenas impacto visual, sem nenhuma mensagem verbal, exceto
em músicas, porém, como a maioria não entendia as palavras que estavam sendo cantadas,
o que valia mesmo era o ambiente criado. À beleza das imagens, produzidas na maioria das
vezes no exterior, associavam-se sempre os esportes. Com uma característica básica:
vanguardismos. Quando não se conhecia asa-delta por estas paragens, lindas imagens de
vôos de asa-delta, e assim foi com parapentes, jet-skis, grandes corridas de bugres no
deserto, windsurf, patins, etc. A poluição visual das cidades brasileiras pela marca
Hollywood foi impressionante, principalmente, se levarmos em conta que o que estava sendo
anunciado era um produto que causa dependência física e psíquica. Inicialmente, eram
outdoors simples. Passou-se, com o avanço tecnológico, a usar-se outdoors iluminados,
novamente sem qualquer mensagem escrita, apenas a visual. A marca passou a ser
perfeitamente identificada por onde vocês passassem e a qualquer hora do dia e da noite.
Era comum chegar-se em um clube ou condomínio e encontrar-se, em todas as barracas que
rodeavam as piscinas, a marca Hollywood. Era um marketing agressivo, pesado mesmo, porém,
os lucros pareciam justificar os gastos. Na revista Veja, de 17 de Junho de 1998 (ano 31
n0.24), há uma reportagem que exemplifica bem o que acabamos de afirmar: a Souza Cruz
(leia-se Hollywood) acabava de produzir a campanha de publicidade mais cara já feita no
Brasil, com imagens na geleiras da Antártica, em dunas na Namíbia e, no Grand Canyon, no
estado do Arizona (EUA). Até o solitário navegador Amyr Klink foi seduzido pela
indústria, participando como orientador da expedição à Antartica.
Klink afirmou: " procurei evitar algum desastre ambiental
". Com estas declarações, fica confirmada a
idéia de um amigo meu que diz que, na Terra, existem cegos guiando cegos. Alguém diz que
procurou evitar um desastre ambiental que poderia ocorrer durante filmagens de um
comercial de cigarros, esquecendo-se, talvez, de que aqueles comerciais por ele
possibilitados de serem feitos, fazem parte de uma campanha que ajuda a vender algo que,
em duas décadas, estará matando 10 milhões de pessoas por ano no mundo. Parece que o
Amir Klink gostou mesmo de trabalhar para a indústria fumageira, pois, quem patrocinou
sua primeira experiência em 2000, no rally Paris-Dakar, foram os mesmos cigarros
Hollywood. Será que ele também foi proteger o deserto de algum problema ambiental ? O
marketing que já propôs o SUCESSO para seduzir os futuros fumantes, passou a dizer
NO LIMITS,
quer dizer, enquanto os movimentos antitabagismo alertam para as doenças e as mortes
precoces provocadas pelo tabaco, a campanha do Hollywood queria seduzir vocês,
adolescentes, com a idéia falsa de liberdade, de potência e de conquistas sem limites.
Em relação ao tabagismo, posso garantir a vocês que há limites. Limites à capacidade
respiratória, limites à potência sexual, limites ao tempo de vida, limites ao
funcionamento do coração e de outros músculos, limites ao paladar e ao olfato, limites
à gravidez, limites à inteligência, em fim, limites é que não faltam em relação ao
tabagismo. A dependência provocada pela nicotina, para a maioria dos que entram em
contato com a droga é que, infelizmente, costuma não ter limite.
Outras marcas preferem atuar junto a outros públicos,
por exemplo, há aquela que apregoa "ter algo em comum com vocês". São os
cigarros Free,
que vendem a ilusão de que se trata de um fumo saudável. Como faz um discurso
supostamente mais inteligente, criou para veiculação da sua marca o patrocínio de um
festival, o FreeJazz (que era o único festival de Jazz do Brasil), entendendo este
gênero musical como sendo mais elaborado. Além dos festivais propriamente ditos que
patrocinava, esteve presente na televisão, com programa especializado em Jazz.
Os cigarros "baixo-teores", afirmam serem a
opção inteligente (i.e., seriam cigarros com menos tóxicos). Este tipo de propaganda é
uma contradição a mais da publicidade dos cigarros, pois, estaria indiretamente chamando
os consumidores dos cigarros "normais" de burros. Os cigarros Free, por exemplo,
sempre têm mensagem do tipo duplo sentido: o importante é termos algo em comum, cada um
na sua, cada um com seu estilo, etc. Se uma empresa produz um produto que faz mal e depois
lança outro que faria menos mal, porém, continua vendendo o primeiro, precisa dar uma
explicação à galera. CADA UM COM SEU ESTILO, quer dizer o que ? Um(a) pode preferir
fumar um "baixo teor", enquanto outro(a) escolhe um "alto teor". Ou
ainda, fumar ou não fumar. A indústria aceita a existência de não fumantes. Passa a
mensagem de que intolerantes são aqueles que não aceitam a existência dos fumantes. Se
um sexto dos terráqueos fuma, para a indústria não há qualquer problema no fato de que
existam aqueles que não fumem. Manter esta taxa, já seria algo bastante promissor.
Em meus sonhos, a modelo
fotográfico que ajuda a vender maços do Free, utilizando-se do Festival de Jazz de 2001,
estaria tentando avisar a turma de fumantes que não consegue perceber o embuste.
"Cada um com o seu estilo, mas com alguma coisa em comum"( parece encontro de
dois pacientes no Hospital do Câncer, tratando câncer de pulmão, sendo que um fumava
cigarros de alto teor e, o outro, de baixo teor de nicotina).
Mais uma mentira dos cigarros Free, pois, um drogadicto não é livre
Um grande número de artistas se recusou a vir ao país
quando descobria que seu show seria patrocinado pela indústria do cigarro. Muitos vinham,
entretanto, para um Free Jazz, sem saberem que quem o patrocinava o evento era uma empresa
de cigarros. Acabavam se exibindo para não desapontar os seus fãs no país. A revista
Trip criou até uma carta padrão, para que os fãs alertassem os seus artistas prediletos
sobre a possibilidade do engodo, com endereço eletrônico e tudo mais.
Não para aí, a presença das fábricas de cigarros na
vida cultural brasileira, por exemplo, um dos raros festivais de dança do país é
patrocinado pelos cigarros Carlton, o Carlton Dance Festival. No ano de 1994, ele não foi
reeditado por não ser do interesse da indústria, por questões do mercado de cigarros e
da economia. Estes mesmos cigarros patrocinam num dos horários nobres da televisão, o
Carlton Cine, um progama semanal de exibição de filmes. Em 2001, até a prefeitura de
São Paulo deu aval e apoio ao Carlton Arts.
Como os cigarros Carlton são uns dos mais
caros do país, evidentemente não têm os adolescentes como principais alvos. Eles visam
um público mais abonado e sagaz. Suas campanhas publicitárias são as mais sutis da
praça. Exibem mensagens extremamente elaboradas, que buscam alcançar uma comunicação
absolutamente inconsciente com o seu público.
Propaganda dos cigarros
Carlton, escrita em
japonês. Mais sutil do que isso, impossível. Foi publicada na revista Veja. Entramos em
contato, via fax, com o Sr. Hasuo, do consulado do Japão, aqui do Rio de Janeiro, que,
muito gentilmente, nos traduziu os dizeres da propaganda. Reproduzo as suas próprias
palavras: "O japonês é composto de 3 ideogramas, é neologismo. Sendo assim, não
existe uma definição clara desta palavra no dicionário japonês. Mas, os 3 ideogramas
dão um sentido de - Sensação de imaginar e criar algo". Portanto,
a propaganda de cigarros já se utiliza de ideogramas orientais para não dizer nada (já
que nem todos somos tão obsessivos para solicitar traduções aos consulados) e fazer
vocês e, no caso do Carlton, seus pais, caírem como patos por este charme todo.
Durante a semana que antecedeu a
realização da prova carioca da Fórmula Indy de 1997, o Rio de Janeiro teve um de seus
mais importantes símbolos maculado (o Pão de Açucar) pela sanha de divulgar uma marca
de cigarro, patrocinadora do piloto Maurício Gugelmin. Pela foto de Jorge William (O
Globo), documentamos a agressão que foi imposta à nossa cidade. A macaquice inventada
para 98, foi desfilar com o carro, preso a um helicóptero, pela orla carioca.
Quando comparamos a mensagem elaborada para
divulgar, por exemplo, o Delícias de Cuba no início do século e, todo o aparato que
cerca o marketing do Hollywood nos dias de hoje, podemos ter até um pequeno aprendizado
quanto à evolução dos tempos modernos. Pena que neste campo estejamos enfatizando o
lado perverso da publicidade. Ela também serve para difundir campanhas de alto valor
social. Portanto, não estamos aqui fazendo um tratado contra a publicidade ou os
publicitários. Eles divulgam o que a lei permite divulgar. Não há nenhum publicitário
veiculando anúncios para ressaltar as melhores qualidades de uma determinada partida de
heroína. O ideal, para a luta antitabagismo, seria tê-los ao lado da divulgação dos
males do cigarro, porém, não pintam os recursos financeiros necessários para tal, ao
contrário, as indústrias tabageiras é que acreditam, cada vez mais, que valha à pena
gastar.
Pasmem vocês, a indústria do cigarro tem
tido recentemente ações visando o social, acabar com o analfabetismo brasileiro, cuidar
da educação ambiental, contribuir para eliminar o trabalho infantil, etc. Todas as
ações são meritórias, porém, em plena guerra contra o engodo promovido há cinco
décadas pela indústria contra a cidadania, com comprovada omissão ou manipulação de
informações para a saúde pública mundial, soa engraçada essa preocupação toda.
Cinco milhões de pessoas morrem por ano, no mundo, devido ao tabaco, no exato momento em
que uma companhia fumageira quer ajudar a sociedade !?!
Adicção, rugas, cataratas e cânceres.
85% dos fumantes começam antes dos 16 anos.
Para vocês verem como a indignação contra este estado
de coisas não existe apenas em médicos, vou reproduzir aqui um trecho da coluna do Paulo
Lima, para a revista InsideNow (n. 105), especializada em Surf. O Paulo, que é editor da
revista Trip e surfista, entre outras atividades, assinou uma coluna cujo título foi
"O SURF E AS DROGAS PESADAS" e, aqui vão dois de seus momentos de revolta:
"... A indútria das drogas vem, de maneira sistemática, se apoderando e usando a
energia dessas manifestações artístico-esportivas para despejar suas substâncias
nocivas e mortais nas veias e órgãos inadvertidos da própria galera mais jovem. Estamos
falando das drogas pesadas, aquelas que mais viciam e matam no Brasil e no resto do mundo:
álcool e tabaco." Prosseguindo mais à frente, sobre propaganda passada na TV:
"...Num mesmo "break", duelavam os filmes de Hollywood (cigarros) e
Malboro. Nos primeiros, cenas incríveis de sandboard (espécie de snowboard trocando
montanhas nevadas por dunas de areia). No segundo, os tradicionais cavalos e vaqueiros
ganharam a companhia de alpinistas e pilotos de motocross detonando uma pista de terra. No
final, tanto em um, quanto em outro, modelos que decididamente jamais subiram sequer na
montanha russa do Playcenter, posando de fodões do bairro Peixoto, dando baforadas em
seus bastonetes nicotinosos, ao lado de pranchas, motos e de logotipos das fábricas de
câncer."
O Paulo Lima, editor da Trip, é o maior
batalhador pela conscientização de vocês, sobre o embuste que é a indústria do
tabaco. Vale a pena conhecer a page da Trip.
Imaginem vocês, caríssimos amigas e amigos, se os
anúncios dissessem a verdade, nada mais que a verdade, como na propaganda abaixo:
_ " Bob, eu fiquei com enfisema ".
(Em 1990, segundo a Organização Mundial da Saúde, o Enfisema
Pulmonar e a Bronquite Crônica foram a 5a. causa de morte, entre todas as que levaram os
seres humanos).
Quanto ao problema da legislação, i.e., porque as leis
não protegem mais vocês da massificação de apelos para que vocês fumem, não posso
responder. Seria uma boa pergunta a ser feita aos seus futuros candidatos aos cargos dos
legislativo. vocês certamente deverão ser procurados por eles, já que o voto no Brasil
de hoje é a partir dos dezesseis anos, se ainda não o foram, certamente o serão em
breve. Perguntem o que o candidato(a) estaria disposto a fazer para mudar esta situação.
São eles que fazem as leis. Aliás, não é só uma questão de ter leis, é também
necessário que as já existentes sejam cumpridas, por exemplo, é proibido fumar no
interior dos ônibus e, o que costumamos ver ? Tanto o motorista, quanto o trocador
fumando, mesmo em dias chuvosos, com as janelas fechadas. O primeiro ministro inglês,
Tony Blair, promete acabar com todas as propagandas de cigarros na Inglaterra, em Dezembro
de 1999.
Abaixo, vamos colocar algumas das pérolas do
cancioneiro popular (como diziam os antigos), no que diz respeito à publicidade engenhosa
para criar um bom ambiente.
"Me ame ou me odeie. Mais ou menos
é que incomoda. Cada um na sua".
Propaganda dos cigarros Free, fonte: Guia de
Programação da NET (TV por assinatura), Dezembro-98.
"Um raro prazer".
Propaganda dos cigarros Carlton, fonte: Guia de
Programação da NET (TV por assinatura), Dezembro-98.
Aliás, o tabagismo é um prazer raro mesmo, pois,
vocês conhecem algum outro, que mate 1 adepto em cada dois? Nem pilotar carros de
Fórmula 1, voar de asa-delta e parapente, escalar himalaias, entrar com a camisa do Vasco
na torcida do flamengo ou protestar contra ditadores ou imperadores têm este risco. É,
ou não, um prazer raro?????
"Aqui não tem despertador, apenas
pura aventura". "Adventure team Marlboro, venha para este time".
Propaganda dos cigarros Marlboro, fonte: Revista Isto É
(n. 1573, 17/03/1999). Curiosa esta mensagem nesta revista, pois, a capa dizia em letras
garrafais: Coração, não deixe que ele pare!! Constando dicas sobre como preservar o
coração, inclusive não fumando. Aliás, um fato
curioso ocorreu comigo num domingo (28/11/99): ao comprar um jornal na banca, recebi-o
dentro de um saquinho plástico. Um dos lados do saquinho tinha a logomarca Marlboro e o
outro a logo da Isto É. Que bela parceria, não é mesmo?
Saquinho ISTO
É-MARLBORO, nov/1999
Um pedaço do saquinho de jornal
que escaneamos para vocês. Que sacanas!!!
A parceria
Revista
IstoÉ - Marlboro rende, hoje, marketing e aumento
das vendas. Dentro de uns dez a quinze anos, a Isto É estará fazendo matérias sobre o
caos da saúde pública que é aguardada pela Organização Mundial da Saúde,
devido às doenças causadas pelos cigarros. Alguém se lembrará, então, que a revista
contribuiu para isto ???
ISTO É, 14/mai/2003 no. 1754
Bom, menos de 5 anos depois, cá está a
ISTO É, alertando a população para o fato de que o número de casos de câncer está
aumentando. Dentro da matéria da capa, sobre o crescimento da incidência dos tumores
malignos, está escrito: "...O cigarro é o principal
vilão: 30% das vítimas tiveram o tabagismo como principal causador da doença...".
"NO LIMITS (Sem Limites)"
Propaganda dos cigarros Hollywood, fontes: Revista
Época (n.49, 26/04/1999 e Revista Domingo, do Jornal do Brasil (No. 1201, 9/05/99).
"Não sou diferente de ninguém. Só
não quero ser igual".
Propaganda dos cigarros Free, fonte: Revista Veja Rio
(Ano 32 , No.11, 15/03/99).
"Cada um na sua".
Propaganda dos cigarros Free, fonte: Guia de
Programação da NET (TV por assinatura), Novembro-99.
Existe a maior ralação para tentar-se proibir
anúncios de cigarros na TV, sobretudo, em horários em que jovens possam assistí-los. No
Guia de programação da Net, entretanto, aonde os jovens estão absolutamente liberados
para buscar os horários de seus programas favoritos, reiteradamente, a indústria de
cigarros ocupa várias de suas páginas anunciando o "coisa ruim". O mínimo que
se poderia esperar de uma revista que, supostamente, invade milhares de casas com o
singelo objetivo de informar horários de programas, tivesse a desfaçatez de não exercer
influência maléfica aos seus assinantes.
"Feliz Natal do Mundo de Marlboro"
Propaganda dos cigarros Marlboro, fonte: Revista Época,
ano II, no.83, 20/12/99.
Não é lindo ?!? "Feliz Natal do Mundo de
Marlboro" !!!
Parece deboche, repetiram a dose
no Natal de 2000...
(Revista Época, ano III, no.
132, 27/11/2000)
A propaganda dos cigarros West,
na Alemanha, que também é chegada numa mensagem natalina, criou uma mamãe Noela para
vender cigarros e iludir os incautos
Em novembro de 2004, finalmente chegaram ao Brasil os cigarros
WEST. Como é que eles iam disperdiçar um mercado com 38 milhões de fumantes como o
brasileiro. Afinal, eles não patrocinam uma equipe de ponta, como a Mac Laren, à toa.
Enganam milhões de pessoas para se darem bem depois, já que ninguém é de ferro ou dá
nó sem ponta...
"Alguns homens fazem o que outros apenas
sonham"
Propaganda dos cigarros Marlboro, fonte: Revista Caras,
ano 7, no.1, 07/01/2000.
"Venha para onde está o sabor"
Propaganda dos cigarros Marlboro.
"Se aparecer um sinal vermelho, não pare. É o sol
se pondo". Não é para qualquer um. Mas você
não é qualquer um.
Propaganda dos cigarros Malboro, fonte: Revista Veja
(ed. 1638, ano 33, no. 9, 1/03/2000).
Esta propaganda é duplamente perversa, pois, de um lado
ela escrachadamente incita os jovens a ignorar os alertas de que o cigarro deve parar de
ser consumido. Enquanto o pessoal da saúde avisa, quase aos berros, que deve-se parar de
fumar, ou de preferência nem começar-se, a indústria contra-ataca livre leve e solta.
Por outro lado, a Revista Veja exatamente anterior a esta (no. 8), trouxera uma matéria
sobre a relação cigarro-adolescência (de Cristina Peres), cujo título era:
A VÍTIMA TEM 13 ANOS, ESTA É A IDADE EM QUE OS
JOVENS BRASILEIROS COMEÇAM A FUMAR. (interessante
o fato de que, neste número da revista Veja, surpreendentemente, as companhias de
cigarros não colocaram anúncios, voltando a fazê-lo normal e pesadamente no número
seguinte).
Se aparecer um sinal vermelho, não pare ???????
Cuidem-se, queridos adolescentes, fiquem com todos os olhos, corações e cérebros em
alerta, porque vocês estão nas mãos de chacais !!! Sinal vermelho, até prova em
contrário, é uma convenção para que se PARE (e, pense...).
"Se você não pode vencer o rio, junte-se a
ele". Marlboro, venha para este time.
Não é
para qualquer um. Mas você não é qualquer um.
Propaganda dos cigarros Marlboro, fonte: Revista Terra (
Março 2000, ano 9, no. 3).
" A montanha é de pedra. E você? ". Marlboro,
venha para este time. Não é para qualquer um. Mas
você não é qualquer um.
Propaganda dos cigarros Marlboro, fonte: Revista Época
( ano 2, no. 94, 6/03/2000).
" Um lugar onde a fronteira é a linha do horizonte.
Marlboro."
Propaganda dos cigarros Marlboro, fonte: Revista IstoÉ
( no. 1595, 24/05/2000).
" Existe um lugar onde a vida tem mais sabor.
Malboro."
Propaganda dos cigarros Marlboro, fonte: Revista Época
( ano III, no. 110, 26/06/2000).
Enquanto uns invejosos ficam dizendo que os
cigarros estão levando as pessoas para uma terra, num cemitério São Pedro, os
publicitários rebatem com a idéia de que, ao contrário, os cigarros Marlboro seriam
diferentes, levariam os fumantes para algo próximo a um paraíso.
Além disto, todos sabemos que um dos motivos
que faz com que os fumantes ganhem alguns quilinhos a mais quando param de fumar é porque
as comidas passam a ter mais gosto, mais sabor. Logo, fumar tira o poder de sentir o sabor
das coisas e, não o contrário. Vocês já beijaram fumante?
Por favor, please, s'il vous plait, prego,
fiquem espertos, queridos...
" Existe um lugar onde o homem é dono do seu
próprio destino. Marlboro."
Propaganda dos cigarros Marlboro, fonte: Revista IstoÉ
( no. 1604, 26/06/2000).
Bom, estamos combinados assim: uma pessoa entra
em contato e torna-se dependente de uma das substâncias mais poderosas para fazer alguém
virar escravo (drogadicto) para o resto da vida, porém, quando lemos que o "Marlboro
é o lugar onde o homem é dono do seu próprio destino" dá vontade de mudar-se para
Marte, ainda mais depois de terem descoberto que tem água lá e, portanto, vida.
Brincadeira, "...dono do seu próprio
destino ?!?". Só 3 % dos fumantes consegue largar a tia Nicotina sem ajuda médica
especializada.
" O importante é ter Charm".
As fotos que aparecem nos anúncios exibem morenas
lindas, portando um cigarrinho na mão. Este cigarro é o mais caro do mercado brasileiro,
consumido principalmente pelas mulheres.
Por favor, agora me dirijo à vocês, meninas, se vocês
me permitem a intimidade. Milhões de reais são gastos em publicidades como esta,
querendo influenciar vocês, meninas, especificamente. Não comprem esta enrolação.
Charme ???? Charm ????
É claro que vocês mulheres estão sendo pressionadas
para serem charmosas, elegantes, magras, bundudas e peitudas. Entretanto, resistam e
descubram-se. Sejam o que vocês gostariam mesmo de ser.
Se vocês conseguirem um gato por que fumam Charm, se
for este o motivo, podem ter certeza de que vocês estão comprando uma "mala"
do tamanho de um container. Alguém escolher uma mulher, mesmo que para
"ficar", por causa do seu cigarro, é o maior mané da paróquia... No entanto,
fiquem de olho vivo: por que esta dinheirama toda que é gasta para dizer que
'o
importante é ter Charm'?? Esta turma nunca dá nó sem ponta !!
" Adriana Recki, 27 anos, agitadora cultural: Eu sou
um animal absolutamente emocional".
Propaganda dos cigarros Free, fonte: Revista da Net (
no. 77, Julho / 2000).
Para uma campanha de cigarros, o uso da razão é
perigosíssima. Pensar é uma arma contra a qual eles têm pouco controle. Um animal
emocional age por instinto, fuma por impulso, mesmo sabendo dos riscos.
" Mega-OM, 26 anos, multimídia: Eu sou a minha
própria invenção".
Propaganda dos cigarros Free, fonte: Revista da Net (
no. 78, Agosto / 2000).
Poderíamos traduzir esta frase lapidar, no seguinte:
Não adianta me dizer que o cigarro faz mal, comigo a banda toca diferente, eu decido que
vou fumar, eu vou parar quando eu quiser e em mim as doenças não vão pegar porque eu
não quero que me peguem...
" Lara Pinheiro, coreógrafa: A melhor parte da
minha vida é o improviso".
Propaganda dos cigarros Free, fonte: Revista Veja ( ed.
1.659, ano 33, no. 30, 26/07/2000).
Mais uma vez, os publicitários do Free jogam no
emocional. Razão, é totalmente out !! Pensar para que ? Por exemplo, a
adolescência dura, aproximadamente, 72 meses. Se em apenas 1, destes 72 meses, vocês
resolverem ser impulsivos, curiosos, improvisadores e pouco se lixarem para os alertas
contra os cigarros, a desgraça já poderá ter acontecido. A imensa maioria dos fumantes
começa a tabacar na adolescência. A indústria do tabaco e, seu braço armado, a
indústria da publicidade, têm 72 meses para que vocês vacilem um mesinho só. A
nicotina vai cuidar do resto, fazendo vocês continuarem fumando, muitas vezes até à
morte. Agir por instinto, sem um pinguinho de discernimento, de saber o que está fazendo
mesmo, é tudo o que os homens sem alma querem de vocês.
" Carolina Overmeer, 27 anos, diretora de arte:
Ninguém muda nada se não acreditar que pode".
Propaganda dos cigarros Free, fonte: Revista Veja ( ed.
1.663, ano 33, no. 34, 23/08/2000).
Outro anúncio do
Free,
o rei das frases feitas e de efeito.
Reparem nos últimos 4 anúncios e as profissões dos gajos: agitadora cultural,
multimídia, coreógrafa e diretora de arte. Como eles acham estas pessoas ? Só conheço
médicos, professores, sambistas, pedreiros, jornaleiros, jornalistas e, coisas assim, de
pouco valor e que o que dizem ninguém quer ouvir. Responda rápido: v. conhece alguma
agitadora cultural ? Por outro lado, responda + rápido ainda: você sabe o que vem a ser
uma agitadora cultural ??
" Daniel Zanardi, 27 anos, artista plástico: Não
quero passar pela vida sem um arranhão. Quero deixar minha marca".
Propaganda dos cigarros Free, fonte: Revista Veja ( ed.
1.665, ano 33, no. 36, 06/09/2000).
E segue a galera do Free, agora com um artista
plástico. Pelo menos, artista plástico, temos uma idéia do que seja. E que é chique
é, convenhamos. Ele diz que não quer passar pela vida sem um arranhão... Pois bem,
escolheu o esporte certo. Fumar vai garantir-lhe diversos arranhões, cicatrizes de
retirada de pulmão, de corte para realização de cateterismo cardíaco, para colocação
de pontes de safena, que irão substituir coronárias entupidas, etc., etc.
Entretanto, podem crer, estas palavras estão sendo
dirigidas (e pagas a preço de ouro, no principal espaço publicitário da revista) à
vocês, como a dizerem: não devo me proteger, pois, quem se protege é um renomado
babaca... Tudo isto com a justificativa de deixarmos uma marca, marca esta que, aos olhos
de um alienígena recém-chegado de um planeta mais evoluído que o nosso, poderia
significar a da imbecilidade total.
" Márcio Neves, 32 anos, fotógrafo: Eu coleciono
amigos. O resto é descartável".
Propaganda dos cigarros Free, fonte: Revista Veja ( ed.
1.665, ano 33, no. 26, 28/07/2000).
Querido Márcio, quando v. tiver a minha idade,
infelizmente, se os seus amigos são fumantes, v. vai começar a perdê-los. Isto já
está acontecendo comigo, que sou pouco mais velho do que você...
Enquanto isto,
o ,
desde 1999, NÃO PUBLICA ANÚNCIOS DE CIGARROS EM SUAS PÁGINAS, para não prejudicar os seus leitores (sem
ter precisado de lei para isso):
The New York Times Bans Cigarette Ads
April 28, 1999, Wednesday
By DOREEN CARVAJAL (NYT);
Business/Financial Desk
The New York Times, joining
small group of newspapers, will ban cigarette advertising; cites
concerns about harmful effects of smoking; cigarette ads provide
less than 1 percent of paper's ad revenues
A Revista Trip entrevistou, em 1999, alguns
artistas que fizeram trabalhos para a publicidade dos cigarros Free. Confiram as
justificativas de dois deles:
MUTI RANDOLPH (DESIGNER GRÁFICO) - "o café é tão horrível quanto cigarros".
MARCELO CIPIS (ARTISTA PLÁSTICO) - "não há incentivo para os artistas. No Brasil, um artista
plástico tem dificuldade para sobreviver apenas com suas obras. É preciso fazer
trabalhos paralelos para poder difundí-la".
Como vocês puderam perceber, talvez esteja aí,
nestes dois depoimentos, a essência do problema de ainda existirem anúncios de cigarros
e quem os criem ou veiculem, uma mistura poderosa:
a ignorância associada à
necessidade.
O problema do tabagismo é tão
sério, que sempre fiquei pensando porque a imprensa não agia mais pesado e, inclusive,
ganhava dinheiro com anúncios que aumentavam a epidemia das doenças provocadas pelo
tabaco.
Aí, no primeiro dia de 2002,
deparei-me com a coluna do Mangabeira Unger, na Folha, dedicando aos jornalistas
brasileiros uma reflexão, da qual reproduzo um parágrafo:
Coluna de Roberto Mangabeira
Unger, Folha de São Paulo, 1 / jan / 2002.
" Nossa imprensa continua
constrangida por três forças:
o controle exercido por
dinastias empresariais preocupadas em manter boas relações com os detentores do poder.
a precariedade das empresas
jornalísticas, quase sempre encalacradas e sedentas de dinheiro e,
para a imprensa escrita, a
estreiteza do meio social a que se dirige, parte reduzida da população adulta do país
".
Portanto, além da falta de
money
e ignorância, agora podemos acrescentar uma certa babação dos ovos da turma poderosa,
para explicar como, uma coisa que mata 5 milhões de pessoas por ano, podia ser anunciada
nos mais respeitados jornais, revistas e demais meios de comunicação de massa, sem
nenhum constrangimento.
O fabricantes de fumo não
sacaneiam apenas os terceiro-mundistas, não... O que eles fazem conosco, também
fazem lá , nas suas
terrinhas natais.
Os Bin Ladens aceitos, os
empresários do fumo, terroristas lícitos, que contribuem para a morte de 5 milhões de pessoas por ano,
já tinham que mostrar imagens de doenças nos maços de cigarros do Canadá. Entre nós,
no Brasil, em pleno ano de 2001, lançavam maços de cigarro estilizados, um deboche
total. Deviam achar que aqui, no que para eles seria a Banana Republic, todo
mundo era otário vocacional, principalmente vocês, adolescentes.
O terror que explodiu as torres
gêmeas do World Trade Center, em Nova York, matou 2.939 pessoas no terrível 11
de setembro de 2001. Nos Estados Unidos, o fumo
está matando o mesmo número de pessoas que morreram no atentado terrorista, só que a
cada dois dias e há décadas. O curioso é que,
enquanto o presidente americano atual, George W. Bush, convoca uma guerra sem tréguas ao
terrorismo, como resposta ao ataque, assim que foi eleito presidente trouxe como um de
seus assessores de maior confiança, o principal lobista da indústria do tabaco.
Folha de São
Paulo, 13/jan/2001
Bush, tão zeloso em sua cruzada maluca
contra o terrorismo, trouxe para cuidar do departamento de saúde do país, segundo o
movimento antitabagismo americano, tão logo eleito presidente, um ex-governador
americano que teria uma estreita relação com a indústria do tabaco. Enquanto fez os
militares americanos irem parar no Iraque atrás de supostas armas químicas de
destruição em massa, que aliás nunca foram encontradas, acoberta a indústria que mais
as produz mortes no mundo: a indústria do tabaco americana.
Temendo uma inação por parte de Bush, no
processo que o ministério da justiça americano move contra a indústria do tabaco nos
Estados Unidos, um grupo antitabagismo de lá criou uma página entitulada:
"Take
Action: Tell President Bush Don't Pardon Big Tobacco"
(Tome uma Atitude: Diga ao Presidente Bush para ele não perdoar a
indústria do tabaco). "A cada dia na América,
mais 2.000 crianças tornam-se adictas ao tabaco - um terço das quais morrerá
prematuramente."
Os maços do
cigarro Free, aproveitando
o festival de Jazz, versão 2001, exibiram fotos de instrumentos musicais, tornando
agradável e tocante, a embalagem dos maiores matadores da espécie humana. Fomos salvos
pela lei federal, de fevereiro-2002, que obriga a inserção de fotos, com os riscos do
tabagismo, nos maços de cigarrro brasileiros.
SuperTV do Jornal do Brasil (ago.1998),
Revista Manchete (jun.1999), Revista República (jul.1999) e Folha de São Paulo (jun.
2002)
A publicidade subliminar do tabaco
ou aquela que utiliza as imagens de poderosos
formadores de opinião, são recursos perigosos para
a saúde pública. Quem acreditará que exista risco na prática do tabagismo, se,
por exemplo, uma pessoa tão inteligente, e queridíssima, como o Jô Soares, não nos
priva de associar a sua imagem ao uso do tabaco? Nestas quatro imagens acima, o tabaco é
validado pelo Jô em todas elas. Não pensem vocês que estas fotos são feitas de
qualquer maneira. Há toda uma produção em cima, com lentes especiais, diversas poses e
cliques para a escolha da melhor composição. Porquê, raios partam, cansei de ficar me
perguntando? Porquê o Jô não evitou esta exposição? Porquê um cara que parece ser
tão bacana quanto ele, que aparece todas as noites nos nossos lares com o seu
talk
show desde 1988, o que, no mínimo, demonstra como ele é respeitado por nós,
não percebeu que pode ter influência sobre milhões de brasileiros, no que tange ao
exemplo em usar tabaco? Sempre me bate que nós, os profissionais de saúde, é que
estamos errando, não monstrando suficientemente para a população em geral, e para o Jô
Soares em particular, o imenso equívoco que é fumar.
Uma outra publicidade que utilizou
o prestígio de figuras públicas brasileiras, é o programa de rádio LIBERDADE DE
EXPRESSÃO, transmitido diariamente, em dois horários, pela
Rádio
CBN. É um papo sobre amenidades da atualidade,
com a participação permanente de um imortal da academia brasileira de letras, o escritor
e jornalista Carlos Heitor Cony e do jornalista e cronista Artur Xexéo. Eles dissecam as
amenidades, durante cinco minutos, e eram precedidos pela mensagem do patrocinador que nos
informava que "a Souza Cruz (maior indústria de tabaco do país) estava há 100 anos
crescendo junto com o Brasil". A mesma mensagem nos era repetida ao final das
amenidades. Liberdade de expressão estava muito parecido com o projeto Convivência em
Harmonia, que quer porque quer que o fumo seja liberado nos restaurantes, bares e
congêneres. Na verdade, longe de ser uma panfletagem em nome da liberdade, em seu sentido
mais amplo e sonhado, tratava-se de LIBERDADE PARA CONTINUAR FAZENDO ANÚNCIOS SOBRE
TABACO (mesmo havendo uma lei federal que proíba tal prática). Entretanto, quem iria
dizer que Cony e Xexéo estariam participando de uma maracutaia inominável. Prestígio
(merecido) é prestígio... De acordo com os milhares de estudos sérios que têm sido
divulgados pelas universidades de todo o mundo, o melhor slogan desse patrocínio
asqueroso deveria ter sido: "Um oferecimento
Souza Cruz. Há 100 anos crescendo junto com a mortalidade por câncer no Brasil". E a coisa era feita de tal forma, que quem fosse contra 'O'
Liberdade de Expressão, por ser uma forma de uma indústria de cigarros burlar a
legislação que proíbe a publicidade de cigarros, iria acabar passando por um renomado
intolerante, um babaca que é contra 'A' Liberdade de Expressão... A exemplo da vida
real, parecendo brincadeira de mau gosto, em fevereiro de 2004, o patrocínio do programa
deixou de ser a companhia de cigarros para ser uma empresa de seguro de saúde. Primeiro o
fumo esculhamba com a sua vida, depois entram em cena os cuidados com a saúde.
Isqueiros com as imagens da cantora
Kelly 'Baba' Key à vontade...
Influência perversa sobre os meninos,
associando os peitões com os cigarros.
Estas coisas todas são importantes
para que vocês possam gastar um tempo avaliando a decisão de não fumar ou fumar. Se
vocês ficarem totalmente abertos para as mensagens publicitárias, sem uma crítica ao
que estão te enfiando pela goela, dado à qualidade das pessoas que as criam, daí serem
profissionais tão bem pagos, e dado ao fascínio exercido pelos que são utilizados como
garoto(a)s-propaganda, a chance de seu desejo pelo matador de gente ser estimulado é
imensa. Vejam a perfeição do embuste:
APROVEITE EM EXCESSO ou CRIE EM
EXCESSO, MAS FUME COM MODERAÇÃO!?! Que mentira,
que lorota boa!! Não é possível fumar com moderação, fuma-se o que o cérebro
determina que se fume. Podem ser 3 cigarros por dia ou 60. Isto não depende da nossa
vontade racional. Podem crer amigos, quando a mensagem diz 'Fume com moderação' quer, na
verdade dizer: 'Viu como nos preocupamos com vocês?', 'Viu como somos uma empresa
socialmente responsável e orientamos bem a nossa clientela?', 'Viram, seus panacas que
querem nos levar para os tribunais, que vocês não vão poder nos levar para os tribunais
porque nós avisamos para eles dos riscos e se eles arrumaram um câncer no pênis ou uma
siquizira nas coronárias o problema é deles, bebé?
E aí, eu acabei entrando na da mensagem
publicitária que v. não percebe que está entrando. Caí tão direitinho, que achei-me
na obrigação de relatar o acontecido, algo muito simples, porém, exemplar:
"Numa bucólica manhã de
terça-feira, fui à padaria do supermercadodoladodecasa, para adquirir o pãozinho fresco
do dia. Como sou bem mandado, levei a listinha de compras que retirei de sob o imã da
geladeira, onde estava a indicação de uma caixa de forra-fogão, aquele papel de
alumínio que protege o fogão da gordurama que esparrama. Fiz as compras necessárias,
voltando para casa para mais um dia de labuta que se iniciava. Tudo como sempre fazia.
Entretanto, naquela manhã, fiz algo que não fazia há mais ou menos uns 4 anos: resolvi
comer dois ovos fritos no café da manhã... Bateu o desejo, fritei os ovos, regalei-me e
fui me trocar para o trabalho. Minha mulher ao ver a frigideira suja de ovo, questionou-me
sobre aquele evento matinal, quase inusitado. Foi só aí que me dei conta de um pequeno
detalhe, a caixa do forra-fogão... Bom, foi isso que quiz colocar para vocês, eu macaco
velho, cansado de guerra, dancei bonito, fritei dois ovos, certamente, pelo que estava
estampado na caixa do forra-fogão. Juro a vocês que mal olhei para a caixa ao
adquirí-la, porém, a mensagem subliminar foi suficiente para me fazer mudar hábitos
arraigados há anos".
caixa de forra-fogão Masterpack
Bom, já que estou contando para vocês
algo curioso e real, deixem-me complementar com outra situação que também vivenciei,
só que há muitos anos, quem sabe, quando alguns de vocês estavam nascendo, ou
ainda não eram nem projeto. Era uma vez, em 1987...
"Era uma vez, um monte de sábios
brasileiros, deslocados para uma bucólica região serrana do estado do Rio de Janeiro,
entre as cidades de Nova Friburgo e Petrópolis. Eles tinham uma missão para lá de
importante: apresentarem, discutirem, analisarem e deliberarem sobre centenas de questões
que poderiam passar a fazer parte da vida de dezenas de milhões de brasileiros, a partir
do ano seguinte. Era a reunião final da chamada
Comissão Arinos, que havia sido
encarregada, pela Presidência da República, de elaborar um ante-projeto da Constituição
Brasileira, que seria debatido e implementado pela Assembléia Nacional Constituinte
no ano seguinte, em
1988.
Como mencionei a vocês que este encontro
seria entre sábios, vocês devem imaginar que dentre estes, muitos eram indivíduos
com
idade bastante avançada, com a saúde muitas vezes precária. Daí a necessidade de haver médicos
presentes, para eventuais atendimentos de emergência. Ao hospital (Raphael de Paula
Souza) em que trabalho, coube o envio destes médicos. Eu e mais três colegas fomos
designados para acompanhar as atividades, em plantões de 24 horas, para o caso
de alguma eventualidade com a saúde daquelas sumidades. Revezávamo-nos diariamente.
Vale remarcar que, nós médicos, tínhamos
o direito de acompanhar, como ouvintes, as acaloradas e riquíssimas discussões, do ponto
de vista intelectual, que tinham lugar no anfiteatro principal do local. Não
tínhamos voto e nem devíamos nos manifestar, porém, a tudo nos era permitido
assistir.
Contrariando o nosso ditado popular que diz
que 'Deus não dá asas à cobra', coube à mim estar presente à primeira apresentação
da idéia de que, na opinião dos sábios,
deveria constar do texto da Constituição
Brasileira que a propaganda de FUMO, BEBIDA ALCOÓLICAS e REMÉDIOS deveria ser totalmente
proibida nos meios de comunicação de massa.
Pois bem, lá estava eu, novamente de plantão na semana seguinte, quando os sábios
aprovaram a decisão. Por tratarem-se de práticas que envolviam riscos de dependência
física e psíquica, a nicotina (do fumo) e o álcool (das bebidas) não deveriam ser propagandeadas
(inclusive, porque não pode-se saber antecipadamente quem, dos que assistem
aos comerciais tem o gen da escravidão à droga, da dependência) e, por haver riscos de auto-medicação ou subestimação de sintomas, os
remédios também não deveriam ser passíveis de publicidade de massa.
Já sabedor do poder 'viciante' das
propagandas de cigarros, e militante contra o tabagismo, lembro-me de haver agradecido a
Deus por estar presente àquele evento, sobretudo, àquela decisão inteligente e
magnânima, tomada pela inteligência do meu país. Quão orgulhoso me senti, vocês
jamais farão idéia. Portanto, no próximo ano, em 1988, não teríamos mais anúncios de
cigarros, bebidas alcoólicas e medicamentos, nas TVs, outdoors, rádios,
jornais, revistas, etc.
Aguardei alguns meses para ver concretizado
o pensamento dos sábios da Comissão Arinos. Vocês igualmente jamais saberão o tamanho
da minha mais imensa decepção, quando acompanhando o resultado final dos trabalhos da
Assembléia Constituinte, via cair por terra a idéia daqueles banimentos publicitários.
Emendas foram colocadas por alguns parlamentares, concordando com a necessidade do
banimento, entretanto, apondo a versão de que melhor seria colocar a idéia com uma lei
complementar, não inserida na nossa Carta Magna, na redação da Constituição. 'Os
poderosos lobbies haviam triunfado', pensei.
Portanto, a Assembléia Nacional
Constituinte de 1988 não acatara a sugestão da
Comissão Arinos, de banimento da publicidade do fumo, das bebidas
alcoólicas e dos remédios. A tal da lei complementar só veio a ser votada e aprovada em
2.000. Assim mesmo, apenas para o fumo.
Perdemos
13 anos! Centenas de milhares de crianças
brasileiras foram influenciadas por estas propagandas, aguardando o raio da lei
complementar. Dezenas de milhares destas crianças vão morrer por causa do injusto, cruel
e interesseiro desejo de algumas corporações.
As bebidas e os medicamentos continuam
sendo propagandeados livremente. Dezenas de modelos femininos surgiram, da noite para o
dia, no boom da publicidade das cervejas em nosso país, gerando um fantástico,
porém, abominável (pelas suas consequências) campo de trabalho para elas. De 1979 a
1999, no Brasil, a indústria da cerveja passou do 41o. lugar, no ranking das
empresas brasileiras, segundo o jornal O Globo, para o 4o. lugar. Os dirigentes dessas
empresas devem estar tão assustados com o alcoolismo brasileiro que vêm lançando
campanhas "educativas" pedindo às pessoas para beberem com moderação...A tal
da responsabilidade social, no caso, um engodo a mais, uma esperteza a mais... Enquanto
uma marca pede responsabilidade ao beber e dirigir automóveis, a outra diz:
EXPERIMENTA!!! E, ainda teremos que ouvir que irão estimular a
auto-regulamentação responsável e o terror: haverá perda de
empregos e de arrecadação de impostos.
Por outro lado, figuras públicas têm
colocado muito dinheirinho nos bolsos fazendo propagandas para a indústria farmacêutica,
de forma absolutamente inaceitável. Um triste exemplo nos mostra o rei do futebol, o
famoso Pelé, que há décadas vem recomendando uma determinada marca de vitaminas. Será
que ele realmente tem algum conhecimento sobre as necessidades do organismo em vitaminas?
Isto, sem falar na sua mais recente especialização, a brochante disfunção erétil.
Em 1987, a Comissão Arinos,
parte da inteligência e do discernimento nacionais, achou que este absurdo_ a publicidade
de fumo, bebida e remédio_ não deveria mais ser permitido em nossa mídia.
Dezoito anos depois
da Comissão Arinos, em 23 de
novembro de 2005, leio em O Globo, o jornal que assino, a seguinte notícia
tranquilizadora: CERCO A BEBIDAS ALCOÓLICAS E REMÉDIOS_Governo propõe regras mais rígidas à
propaganda e à divulgação na imprensa.
Caríssimos adolescentes amigos, vocês
estão vendo como toca a banda? Estão todos preocupadérrimos com a questão. É
reconfortante, dezoito anos depois, sabermos que algo VAI SER
PROPOSTO!?!?! Certamente uma comissão será criada para analisar o problema,
o Conar (Conselho Nacional de Auto Regulamentação Publicitária) vai dizer
que vai fazer isto ou aquilo, assim ou assado, cozido ou frito; aparecerão
os que dirão que tal medida gerará perda de receita e desemprego; os que
afirmarão que tal iniciativa será um atentado à liberdade de expressão ,
fruto de mentes facistóides e saudosistas de Hitler; os que garantirão que,
no Brasil, já existem restrições suficientes, etc. Todos os que lutaram
durante décadas pelo banimento da publicidade do fumo estão cansados de
conhecer a lenga-lenga... E, mesmo assim, por um erro de avaliação, pela
subestimação da capacidade dos caras (coisa que não faço de jeito nenhum),
permitindo-se que a publicidade fosse possível nos pontos de venda de
cigarros, o que vemos: quintuplicaram os pontos de venda e quintuplicaram os
displays destes pontos de venda de cigarro. Não tem bobo, meus caros, o mais
mané dá nó em pingo d'água.
Vocês, que estão
agora na faixa que vai dos 12 aos 18 anos, podem ter certeza: há uma geração
de alcoólatras sendo formada neste final de século XX e início de século
XXI, aqui em nossas paragens e nas nossas barbas. Lembrem-se que o álcool da
bebida, apesar de ser lícito (sua venda é para maiores de 18 anos, nunca se
esqueçam _ e é o que vocês vêem?), é uma droga como outra qualquer.
fotos publicadas em O Dia,
17/set/2003, em matéria de Flávia Motta e Zean Bravo sobre legislação sobre
publicidade de cerveja
Todas estas gatas convidam os
otários a tornarem-se cervejófilos_ e como tem otário que é atraído para o alcoolismo
por estas peças promocionais. A imagem erotizada das mulheres tem sido a principal marca
publicitária das cervejas brasileiras no início do século XXI. Campo de trabalho imenso
para modelos tornarem-se famosas ou ampliarem os seus domínios já conquistados,
tais como Cássia Ávila, Ana Luíza Castro, Ellen Roche, Maryeva e Pietra Ferrari.
fotos publicadas no jornal O
Globo, 13/set/2003, em matéria de Ronaldo D'Ercole e Erica Ribeiro, sobre o Conselho
Nacional de Auto-regulamentação Publicitária
Déborah Secco e as Sheilas
tão dentro, atriz e dançarinas também são filhas de Deus.
Revista Playboy, outubro 2004
Primeiro, a modelo anunciava uma cerveja
que desceria redondo. Depois, ela tornou-se capa de revista masculina, onde
havia a orientação para que fosse apreciada sem moderação, numa alusão à
mentirada do "beba com moderação".
IVETE SANGALO _ musa da
música baiana e popular brasileira
Queridos
brothers adolescentes, o Conar (Conselho Nacional de AutoRegulamentação
Publicitária) está tomando conta de tudo. Está tudo
devidamente regulado. O Conar está de olho
no lance. Até 'Beba com moderação' ele mandou colocar após os
anúncios, vixe!?! Isto, porque o Conar sabe que se um de vocês,
adolescentes, for portador de um determinado gen, pode ser atraído pela
propaganda e, uma vez entrando em contato com o inocente álcool da cervejinhazinhainha, pode dele jamais conseguir separar-se. Agora, com o
alerta para que você beba com moderação, o problema está magicamente
equacionado. Toca outra vez Ivete...
E, que os sábios da
Comissão Arinos se explodam...
Numa tarde
de domingo (18/09/05), eu estava reunido com alguns meninos, assistindo
Vasco x São Paulo, pelo campeonato brasileiro de futebol, via Rede Globo de
Televisão. A média de idade deles era de 11 anos. Pois que bem, durante a
transmissão do primeiro tempo, anúncios da cerveja Skol. Em seguida, no
intervalo entre o primeiro e o segundo tempos, propaganda da cerveja
Antártica: uma moça de lábio da cor de mel passa a língua sensualmente sobre
ele (o lábio), para tirar a espuma que lá insistia em permanecer...
Imagens do carnaval de 2005
pela televisão brasileira:
Desfile das escolas de samba do grupo
especial pela TV Globo_ efeitos computadorizados com a logo da cerveja Kaiser,
Intervalos comerciais do desfile das
escolas de samba do grupo especial pela TV Globo_ propaganda da
cerveja Bavária,
Mudamos de canal_ TV Bandeirantes.
Imagens do carnaval da Bahia, vistas do camarote da BandFolia, devidamente decorado com
cartazes da cervejaNovaSchin,
No dia seguinte, nos jornais e
revistas, fotos das celebridades presentes ao camarote mais concorrido e badalado da
Marques de Sapucaí... Camarote da cerveja Brahma...
Estamos, ou não estamos,
entregues às traças??????????????
Parece que o negócio é
dindim no bolsim, um espaço na foto ou um jeito de ver o maior espetáculo da Terra sem
saber a letra de samba algum e jamais haver posto os pés numa quadra de subúrbio...
fotos revista Caras, fev/2005
E, enquanto tem o bloco dos 'sem noção' rindo à toa (todas
figuras de destaque em suas áreas de atuação), deve ter ex-membro da Comissão Arinos
dando volta na tumba... E o alcoolismo crescendo à toda em nosso país. Ave, Momo !
Consumo de álcool será controlado,
Jornal O
Globo, 2/mar/2005 (18 anos depois da decisão da Comissão Arinos, de 1987, o papo ainda
segue solto e a retórica vai ganhando de lavada)
O Globo, Zona Sul, 7/04/2005
Aprovados
em boemia _ Estudantes contam por que os botecos de universidade são parada
obrigatória o ano inteiro.
A turma malvada está ganhando mole esta partida...
Editoria de Arte, Jornal O
Globo, 01/jun/05
Pesquisa patrocinada pela Secretaria Nacional
Antidrogas, com 48.155 estudantes entre 13 e 15 anos... Parece que ainda temos muita coisa
para trabalhar e muita gente para conscientizar, dos que formam o bloco dos 'sem noção'
aos que criam ou educam as gerações que vêm por aí.
Jornal O Globo, 12/jun/05
Entretanto, fiquemos todos bem
tranquilos. A situação está sendo abordada com bastante seriedade pelas nossas
autoridades. A cerveja Bavaria é a Patrocinadora Oficial dos Jogos Panamericanos de 2007,
que se realizarão no Rio de Janeiro... Ave, César !
Álcool e Tragédias,
por Vilma
Gawryszewski,
que é médica e coordenadora do Grupo Técnico de
Prevenção de Acidentes da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo
Cerco a bebidas alcoólicas, governo propõe regras mais rígidas à
propaganda e à divulgação na imprensa, em matéria de Geralda Doca e
Mirelle de França, Jornal O Globo, 23/nov/05
foto de Daniel
Ramalho, Jornal do Brasil, 27/nov/05
Garçom, mais uma. Bares lotados e lançamentos de cervejas confirmam:
o carioca bebe cada vez mais, em matéria de
Solange Bagdadi, Jornal do Brasil, 27/nov/05
Ambev ganha 153% mais até
junho, em matéria de Aguinaldo Novo,
O Globo, 15/jul/06_
A Ambev, braço brasileiro da gigante belga
Inbev (dona das marcas de cerveja Skol, Brahma e Antártica), fechou o
primeiro semestre com um lucro líquido de R$ 1,139 bilhão, 153% a mais
do que no mesmo período de 2005 ( receita bruta foi de R$ 8,006 bilhões,
contra R$ 7.399 bilhões nos primeiros seis meses de 2005).
Satanás tá mandando brasa, mas o Conar está
tomando conta geral.
Entretanto, quando
a gente pensa que já viu de tudo, não é que as surpresas não acabam. Pois
bem, de repente, não mais do que de repente, uma das mais tradicionais
figuras esportivas brasileiras, o maior ídolo da história do time de maior
torcida do país, resolve conclamar a sua massa torcedora,
numa ação totalmente desprovida de escrúpulos,
a ajudarem a sua agremiação comprando cerveja, o que para muitos será o
primeiro passo rumo á dependência alcoólica e à ruína pessoal. Que falta de
caráter tiveram Zico e a diretoria do
Flamengo bolando e estrelando tamanha
barbaridade. Pelo menos isto, mesmo antes do banimento quase total da
propaganda de cigarros da mídia, o movimento anti-tabagismo havia
conseguido: o fumo não podia utilizar esportes olímpicos para publicidade e
havia horário abaixo do qual era proibido anúncio.
Quem quiser ter o
desprazer de assistir à peça publicitária do Zico e da diretoria do Flamengo
para a Cerveja NovaSchin:
clicar aqui. E o Conar está tomando conta
de tudo, fiquem tranquilinhos. Vem
mais por aí...
O Globo, 15/ago/06
E como diziam os
antigos, ninguém dá nó sem ponta, complementando o acordo espúrio, toda a
notícia sobre o Flamengo em parte da imprensa escrita vem associada à
campanha da cervejada. Nenhum outro clube de futebol tem a sua marca
associada á bebida alcoólica no país, muito menos tendo a imprensa como
parceira.
Quando o Brasil
estiver no topo do ranking dos
cirróticos e dos alcoólatras, quem vai
se lembrar de como chegamos lá? Num país de analfabetismo funcional
galopante, chega a ser demoníaca esta maneira de ganhar dinheiro. E, a turma
mais jovem fica totalmente exposta aos jogos do poder grandes das
corporações.
foto Marcos Ramos,
Jornal O Globo, 1/mar/06
CharutoCerveja
NovaSchin
Romário
(segundo maior artilheiro do futebol mundial _ atrás apenas do Pelé)
Carnaval 2006 _ Rio de Janeiro
Camarote da Cerveja Nova Schin no
Sambódromo
A indústria da Cerveja e do
Tabaco não podiam querer nada melhor...
Quando Michael Jordan, maior jogador da história do
basquete americano, apareceu em situação parecida, fumando charuto após
vencer um campeonato de basquete, pelo Chicago Bulls, no dia seguinte
recebeu reprimendas públicas de inúmeras associações médicas de lá, do porte
da American Cancer Society, American Heart Association, etc.,
pelo fato de ser uma figura pública e ter o dever de contribuir com a
educação da juventude que o admirava. Até mesmo quando ele foi num torneio de
golfe, e
puxou um charutão, caíram-lhe de pau em cima.
Para quem trabalha com a
saúde pública nos países em desenvolvimento, não bastassem os problemas
específicos do setor, temos que enfrentar mistura bem dosada de cinismo,
corrupção, falta de discernimento, incompetência, negligência, mas, o que é
o pior, muitas vezes nos deparamos com egoísmo extremado e o mau caratismo
em sua forma mais bruta.
Propaganda da patrocinadora da
Seleção argentina de futebol
Álcool
no Brasil
Ídolos
mundiais do esporte sem vergonha
de influenciar os jovens
(O Alcoolismo _ 2a.
causa de mortes evitáveis no planeta _ pode começar na infância)
Afinal, o que se pretende com
estas frases:
1. "Beba com moderação"
- que
aquele que não bebe comece a beber? É bom
lembrar que os ídolos esportivos influenciam, sobretudo, as crianças e os
adolescentes.
2. "Se beber, não dirija" - que
aquele que não vá dirigir, beba?É bom
lembrar que os ídolos esportivos influenciam, sobretudo, as crianças e os
adolescentes.
Abram os olhos, indústria sabe vender seus
produtos