Capítulo 22

QUEM GANHA DINHEIRO COM TUDO ISTO ?


"Tem gente que está do mesmo lado que você
mas deveria estar do lado de lá
Tem gente que machuca os outros
Tem gente que não sabe amar
Tem gente enganando a gente
Veja nossa vida como está".

Renato Russo ('Legião Urbana')


"No dia em que vi essa imagem pela primeira vez (mesmo sendo uma fotomontagem), imaginei uma pessoa saindo da infância, dirigindo-se à fase adulta (adolescência), sendo atacada, nesta escalada, pela feroz e mortal indústria do tabaco".

Os que mais arrecadam com a produção e comércio do fumo são: as indústrias do tabaco e os governos que ficam com os impostos. Se bem que os governos devolvem tudo depois, e ainda colocam mais, para pagar o prejuízo final.

 

Como é ser uma grávida numa lavoura de tabaco do Quênia?

Por todo o mal que esta prática traz para a humanidade, poderíamos classificar este pessoal da indústria tabageira como os maiores vampiros do planeta. O vampirismo suga a energia humana, seus sonhos, seu potencial criativo e a própria vida.

Marcelo, cartunista, em O Globo, 27/07/2001.

Além destes, existe toda uma rede de interesses os mais diversos que tem início nos agricultores, aqueles que plantam as sementes e entregam as folhas preparadas para o beneficiamento às indústrias, passa pelos fabricantes de fósforos, isqueiros, cinzeiros, cigarreiras, cachimbos, piteiras, papel (para a feitura do cigarro, para os maços que os embalam, para os cartazes dos anúncios, etc.), pelos fabricantes dos agrotóxicos que são usados na lavoura do fumo, pelos fabricantes de pesticidas que protegerão o fumo que fica secando nos galpões, pela indústria farmacêutica que irá fabricar os remédios que futuramente serão prescritos para os fumantes que se tornarão doentes, por todos os fabricantes de materiais hospitalares (catéteres, sondas, fios de sutura, radiografias, contrastes radiológicos, respiradores artificiais, seringas, agulhas, balas de oxigênio, cadeiras de rodas, muletas, próteses penianas, etc.). Passa também pelos médicos de várias especialidades (que mantêm parte da sua clientela entre os usuários do tabaco), pelos hospitais, casas de saúde e laboratórios. Ganham bastante as empresas de publicidade, os publicitários, os produtores culturais, os atores, os modelos, os pilotos de carros de corrida e a imprensa falada, escrita e televisionada que veicula as mensagens publicitárias (6% do que a indústria do tabaco arrecada é aplicada em propaganda).

maria eugênia, cartunista da coluna da danuza leão, folha de são paulo, 16/5/04

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Vai fumar ou não vai, menino?

Na outra ponta da linha, iniciada pelos agricultores, estão os donos de tabacarias, bares, botecos, lanchonetes, padarias, restaurantes, bancas de jornal, vendedores ambulantes e postos de gasolina que vendem os cigarros.

D. Pedro I, o primeiro imperador do Brasil.

Sei que posso passar por exagerado mas, acompanhem-me nesta viagem pelo livro "Armas, Brasões e Símbolos Nacionais", do Prof. de História Sebastião Ferrarini.

Bandeira do Império

Em 18 de Setembro de 1822 (onze dias após proclamar a nossa Independência de Portugal), D. Pedro I, ao chegar ao Rio de Janeiro, vindo de São Paulo, entre outras coisas, decretou a criação da Bandeira Nacional, a bandeira do império brasileiro. Pasmem, mas vejam quem aparece ornamentando a dita bandeira, um ramo de TABACO, acompanhado por um ramo de café. Esta "homenagem" do Imperador ao tabaco, era um reconhecimento, em 1822, da importância da cultura do fumo para o comércio brasileiro e sua exportação. Com a exportação do açucar em baixa, perdendo terreno para o açucar do Caribe, principalmente de Cuba, o tabaco e o café, representavam o que de mais rentável possuíamos.

Brasão da República

O mesmo professor Ferrarini nos presenteia, em seu livro, com gravuras de outra "homenagem" do Brasil ao tabaco, já em 1889, Brasil-República. Nas Armas Nacionais, lá está o ramo de tabaco de braços dados com o de café. Agora, mais de um século depois, está o país a pagar um mico republicano ostentando entre seus símbolos nacionais um produto que está sendo execrado mundo a fora.

Participe de nossa enquete, você acha que o nosso brasão da República deveria ser modificado? Vote aqui.

Cruz, cartunista

É o brasão da República ou a logo das indústrias do tabaco e do café?

Nem todos amam trabalhar com números, porém, precisarei encher o saco de vocês um pouquinho com eles. Em 2011, segundo a Companhia Souza Cruz, a sua rede de distribuição atingiu os 300 mil pontos de venda no país. O mercado brasileiro consumiu, em 1992, mais de 120 bilhões de cigarros, representando um faturamento de US $ 4,8 bilhões ( quatro bilhões e oitocentos milhões de dólares). Se acrescentarmos o que foi conseguido com o tabaco exportado, chegou-se a US $ 5,8 bilhões ( cinco bilhões e oitocentos milhões de dólares), em um ano apenas de negócios. Imagine-se, com a atual conscientização das pessoas em relação aos males do cigarro ( que é muito pequena), se as pessoas ganhassem um pouco melhor, se a crise econômica diminuísse, se houvesse mais empregos e melhores salários, qual não seria o ganho do sistema.

Para vocês terem uma idéia do que acontece num país economicamente rico do primeiro mundo, nos Estados Unidos, gasta-se US $ 46,7 bilhões (quarenta e seis bilhões e setecentos milhões de dólares) com cigarros. Em compensação, morrem 430 mil americanos por ano, por causas tabaco-relacionadas. Sendo, este número, segundo as autoridades americanas, maior do que se somarem as mortes por AIDS, assassinatos, suicídios, incêndios, drogas pesadas , álcool e acidentes de automóveis.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) atribui ao fumo, quatro milhões e novecentas mil pessoas mortas, precocemente, (4.900.000/ano)_ sendo duzentas mil no Brasil (200.000/ano), considerando este vício como o principal fator de mortes na Europa, devendo recomendar a 50 chefes de estado europeus a adoção de uma posição firme contra o cigarro e demais formas de criar dependência à nicotina.

By Allan Sieber

Folha de São Paulo, 17/jul/2001

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O escárnio e a crueldade das indústrias do tabaco revoltaram o mundo em Julho de 2001, quando a principal indústria de fumo (Philip Morris) publicou um relatório desumano, divulgado por toda a imprensa mundial, em que afirmava que a República Tcheca reduzia os gastos em saúde porque os fumantes morrem cedo. Com estas mortes antes do tempo, os países economizariam por não ter que pagar aposentadorias e ter gastos com a saúde de idosos...

Do preço de venda do cigarro no Brasil, 73% fica com o governo, sob a forma de impostos. Ou seja, em 1992, por exemplo, em relação às vendas no próprio Brasil, o governo ficou com mais de US $ 3,5 bilhões (três bilhões e quinhentos milhões de dólares).

Fiquei tão emocionado que cheguei a chorar, quieto no meu canto, sem ninguém perceber, quando vi o, então, ministro da Saúde José Serra concedendo uma entrevista para o jornalista Bóris Casóy, no mês maio de 2000, afirmando:

"NÃO IMPORTA SE O TABACO GERA MUITO IMPOSTO PARA O GOVERNO. UM GOVERNO NÃO PODE RECEBER IMPOSTO POR VENDA DE DROGA".

Vocês não podem imaginar o que é, para alguém que estuda e batalha neste assunto há mais de 20 anos, ouvir algo deste nível, de uma alta autoridade do governo. Foi uma das maiores emoções recentes da minha vida. Entretanto, a ação de governo contra o fumo tem de ser uma política realmente de governo, iniciando-se pelo próprio presidente do país e perpassando por todos os seus ministros e secretários. O combate à epidemia tabágica, a mais séria epidemia do mundo atual, não pode ser tarefa exclusiva do ministro da saúde.

Vocês devem estar cansados de ouvir que o Brasil tem dimensões continentais. Isto não quer dizer só que ele é grande às pampas. Quer dizer também que tem gente à beça. Somos, com os nossos mais de 176.000.000 (cento e setenta e seis milhões) de habitantes, o quinto país mais populoso do planeta, atrás da China, Índia, Estados Unidos e Indonésia. Somos, portanto, um mercado de consumo maravilhoso, para qualquer porcaria que alguém queira produzir ou vender. Tudo se pode multiplicar por cento e sessenta e cinco milhões, pensem nisto. É bem verdade, que tem uma porção destes milhões que, no momento, não está podendo consumir quase nada, mas mesmo assim, sobra "muitiu" milhão de gente. Enquanto está havendo uma diminuição dos negócios nos países ditos adiantados, as indústrias tabageiras vem deslocando muito do seu poder para o dito terceiro mundo, elas vêm secas, apostando na nossa ignorância e, porque não dizer, total desproteção (vide à exposição a que os terceiro-mundistas costumam estar sujeitos, vendo os anúncios dos cigarros, há muito proibido em alguns países do andar de cima). A Alemanha inteira cabe dentro de São Paulo, atravessa-se toda a Suiça em 3 horas de carro (naquelas auto-pistas maravilhosas), a Hungria é do tamanho de Santa Catarina. Imaginem quão interessantes podemos ser para as indústrias de fumo.

Permitam-me uma pausa para eu contar um pesadelo: numa destas madrugadas, acordei suado, arfando, deprimido. Sonhara que tinha ido a um lugar e pedido um sanduíche de queijo Minas. De repente, quem me atendia eram jovens vendedores do Mc Donald's que começavam a rir do meu pedido, um chamava outro e, os dois mais outros e, ao final, estavam às dezenas a gargalhar da minha solicitação, mãos à barriga para não explodirem, todos a repetir: "sanduíche de queijo de Minas, Ah!, Ah!, Ah!, Ah!, Ah!, Ah!, Ah!, Ah!, Ah!, Ah!, Ah!, Ah!". Acordei com a sensação de ser um dinossauro a quem esqueceram-se de explicar a nova ordem e, para complicar, eu insistisse em portar uma bandeirinha brasileira velhinha, em frangalhos.

Em relação aos agricultores, o tabagismo mereceria um capítulo à parte, tal a importância que a cultura do tabaco assumiu no Brasil. É disparado a roça que mais rende para o agricultor. Nenhuma outra lavoura traz tanto lucro. Até porque, as indústrias facilitam ao máximo, fornecendo sementes, apoio técnico no plantio, transporte, etc. Milhares de famílias brasileiras dependem destes roçados, o que será um problema futuro quando, assim espero, houver uma conscientização maior das pessoas em relação a este assunto. Neste sentido, em muito se assemelhando às famílias dependentes da produção de cocaína nos países, nossos vizinhos, Bolívia e Colômbia. Lá, muito da economia rural, e mesmo a dos próprios países, está diretamente ligada ao cultivo da "coca", devido ao seu alto lucro.

"Onde tem fumo tem desenvolvimento. A gente planta, entrega e sabe que vai receber. Por mais que tentem diversificar as culturas, é sempre o tabaco que garante a nossa sobrevivência".

Oneide Junkheer, plantador de fumo em São José da Reserva, Rio Grande do sul, Brasil (depoimento dado a revista da Philip Morris, Ano I, no. 1, out/nov/dez 2001)

Segundo informações da indústria do tabaco, ao contrário de outros países, onde a grande produção está na mão de grandes produtores, no Brasil, 80% da produção nacional de tabaco cabe aos pequenos produtores. Estes seriam em torno de 170 mil pequenos produtores. Os estados brasileiros do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná são responsáveis por 80 % da produção total de fumo no país.

fonte Banco Mundial, 1999

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O Brasil é o quarto maior produtor de tabaco do mundo

fonte Banco Mundial, 1999

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O Brasil é o maior exportador de tabaco do mundo

No Zimbabwe, por exemplo, 60% de toda a sua agricultura estão ligados à produção do tabaco. Em Malawi, na África, um dos países mais pobres do mundo, 40% do produto interno bruto dependem das exportações de fumo. A Organização das Nações Unidas (ONU) espera levar 30 anos (!?!) para reverter este quadro, investindo em outros tipos de plantações.

 

Conversando com o Bigode, dono de um barzinho no centro da cidade do Rio de Janeiro, descobre-se que o lucro com a venda de cigarros não é significante. Os donos de bares ganham 8 % do valor. O Bigode me disse, que só vale a pena pelas vendas indiretas, tipo o sujeito que vai comprar cigarros e, ao ver uma bandeja de pastéis chegando, fresquinhos, aproveita e diz : "me dá um pastel desse aí, ô bigode". Ele reclamou (o bigode) que, se perde um maço de cigarros, lá se foi o lucro que teria vendendo dez (perde aí, quer dizer, se alguém leva e não paga, bem entendido). Um outro jeitinho brasileiro é o tal de "cigarro à varejo", onde o incauto sem grana compra um cigarro de cada vez, pagando quatro vezes mais caro, porém, como não tem dinheiro para o maço inteiro, vai levando assim mesmo...

Dizem os invejosos, que para um indivíduo querer ser comerciante, tem que ter uma personalidade de quem gosta de pegar uma coisa por 50 e entregar ao outro por 150. Outra característica do comércio, diz aquele mesmo grupo, é a de que, para que os seus pretensos clientes não exclamem " nossa senhora, 120 reais por essa sandalinha, tá pirado, o cara, aí? ", preferem afixar o preço como sendo de " apenas 4 x de 29,90, na promoção ". Tenho amigo que terminantemente não compra nada em local que tenta enganá-lo com preços que acabem em 9, 90 ou 99. Acha que se o comerciante quer enganá-lo, não pode confiar no produto que ele vende.

Para vocês terem uma idéia de como ganham estes interessados indiretos, vou lhes contar uma história verdadeira passada na metade do século em Portugal : o governo português era dono das companhias fabricantes de fósforos. Com a chegada de isqueiros contrabandeados à terrinha, viu-se obrigado a criar uma lei que dificultasse o consumo destes, em detrimento dos fósforos. Dizia a lei : "só será permitido aos portugueses o uso de isqueiros sob telha". Traduzindo, só seria permitido seu uso domiciliar. Alguns estudantes da Universidade de Coimbra desafiaram as autoridades, acintosamente, acendendo seus cigarros na rua, com o isqueiro em uma das mãos, enquanto seguravam uma telha sobre a cabeça com a outra. Tomaram o texto da lei ao pé da letra. O fato importante, não é o que parece piada mas, o tamanho do lucro que deveria ter naquela época o governo português vendendo fósforos. Imagine em nosso país, aonde ainda existem trinta e dois milhões de fumantes, cada um comprando uma caixa de fósforo a cada dois dias, 35 milhões de caixas a cada dois dias e, ao mês, mais de 500 milhões de caixas. Isto tudo em potencial, pois, pode ser que, com as dificuldades financeiras das pessoas, esses números não estejam sendo alcançados. Menciono esta história, para vocês terem uma idéia de contra quem vocês estariam lidando.

© Kamil Yavuz, Cartunista - Istambul, Turquia

Fujam destes caras o mais rápido que puderem e, se possível, sem nem olhar para trás .

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Primeiro eles te seduzem com um campeonato de motovelocidade, novos heróis e suas máquinas possantes de cores berrantes. Depois, já que ninguém dá nó sem ponta, eles colocam os novos heróis e as suas máquinas possantes de cores berrantes num encarte promocional que te seduz a comprar dois maços de cigarros + 1 isqueiro por 7,50 reais. Eles acham (e provavelmente devem ter motivos para achar) que a cabeça de vocês estará tão bem feita para valorizar os novos heróis e suas máquinas possantes de cores berrantes que vocês nem repararão que eles estão, na verdade, fazendo com que vocês paguem para usar um veneno que mata 1 em cada 2, enquanto inconscientemente acham que transformaram-se em heróis e que os ônibus, que a maioria de vocês pega, viraram máquinas possantes de cores berrantes...

Somos todos nós, queiramos ou não, facilmente influenciáveis (digo, sabendo o quanto deve ser difícil para vocês aceitarem isso). Podem ter certeza, entretanto, de que esta massa de interessados, conscientemente ou não, com maior ou menor falta de ética, tudo fará para que vocês, entre os 11 e os 17 anos de idade, resolvam ser mais curiosos do que já o são naturalmente e, experimentem um cigarrinho "pra ver qual é ?".

Revista Philip Morris no varejo, abr/mai/jun/2004

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Rubens Barrichello, garoto propaganda da maior indústria tabageira do mundo, a Philip Morris_ leia-se Marlboro, o cigarro mais vendido no mundo. Felizmente, para a qualidade de vida dos adolescentes brasileiros, ele não ganha nada.

Lembro, correndo o risco de ser insistente demais, que se vocês decidirem que querem se tornar fumantes, não estarão tomando nenhuma atitude de rebeldia, muito ao contrário, estarão indo à favor dos ventos, repetindo o caminho trilhado por milhões de outros adolescentes parecidíssimos com vocês. Nada será novidade, tudo como antes, desde o início do século. Intoxicação pela nicotina > tolerância à nicotina > dependência de nicotina > crescimento do lucro (dinheiro) dos interessados.

Se vocês são do tipo bonzinhos, sempre se achando culpados por tudo que acontece ao redor de vocês, sugiro, que se vocês se sensibilizaram pelos relatos e estiverem com ímpeto de ajudar às famílias de lavradores, aos "bigodes" coitadinhos, aos sofridos geradores de emprego ( donos das indústrias de fumo ) ou ao seu governo nacional-varonil ( "para que ele possa aplicar mais recursos em saúde, educação e casa, para os menos favorecidos", já repararam como sempre os discursos são assim?), corram atrás das contas bancárias aonde vocês possam diretamente depositar um determinado valor mensal, evitando assim terem que comprar um maço de cigarros, para resolver seus dramas. Por exemplo, descubram a conta de um agricultor do sul do país e, adotem-no. Combine com ele quanto vocês irão dar-lhe por mês. Não precisam de intermediários, vão direto ao objetivo. Deem-lhe money ! É disto que se trata. Passe numa sessão do Ministério da Fazenda e pergunte como fazer para doar uma determinada quantia em dinheiro mensalmente, pois vocês desejam contribuir para melhorar a arrecadação do seu governo. Como vocês podem constatar, vocês não precisam se intoxicar, ter seus espermatozóides mais lentos ( ainda não tinha falado sobre os SPTZ com vocês, não é ? É, eles fica mais lentos, por causa de alterações em seus cílios ), tossir como mulas , para ajudar aos próximos ou distantes. Bom, se vocês preferirem, gastem dinheiro ligando para qualquer destes "disk-manés" ou "disk-pereca" que existem pelas nossas redes de televisão, num dos milhares de 0900-blá-blá-blé-blé. Até mesmo ser enganado por um "disk-guria" é mais inteligente que dar dinheiro para adquirir doenças.

É claro, que esta relação valor-trabalho-dinheiro meio esquisita, é apenas mais uma demonstração de como as coisas estão meio piradas, neste fim de século. Teoricamente, o trabalho seria não só a forma de sustento ou luxo, como nos habituamos a julgar. O trabalho seria a maneira das pessoas se auxiliarem com o suor de seus rostos e seus potenciais de criação. Poder trabalhar seria algo realmente no nível do sagrado. Ao contrário, o que observamos é que a segunda-feira é maldita por todos e, em contra-partida, um feriadão é aquela maravilha. Baseados nesta forma egoísta de raciocinar, pouco importa se o trabalho está a serviço de fabricar e vender veneno para os semelhantes. Além disto, é pouco comum encontrar-se alguém que tenha prazer no trabalho que exerce, seja por estar na atividade errada para a sua natureza, seja por nunca haver sido orientado para o fato dele ter o direito de curtir trabalhar.

Até mesmo porque a nossa sociedade não aceita muito essa idéia ridícula de ter prazer em qualquer coisa. Sentir prazer gera uma imensa culpa na maioria das pessoas. Tem gente que só se permite "curtir", se estiver bêbada ou chapada. Lá na minha Escola de Samba, na Caprichosos de Pilares, vejo que tem folião que só entra no sambódromo, para ser feliz, depois da décima lata de cerveja.

Para complementar a idéia de vocês sobre a quantidade de dinheiro envolvido neste assunto do tabagismo, lembro do dia 21 de Junho de 1997, quando os jornais do mundo inteiro trouxeram, em manchete, o acordo firmado no dia anterior, entre as autoridades americanas e as principais indústrias multinacionais do tabaco. Neste acordo, entre outras coisas, os representantes das indústrias se comprometeram a criar um fundo de, nada mais e nada menos, DUZENTOS E QUARENTA E SEIS BILHÕES DE DÓLARES (US$ 246.000.000.000), assumindo a sua culpa em relação ao produto que vendem nos EUA. Este fundo vai para financiar os gastos que os estados americanos tem com os males provocados pelo vício do fumo. O valor deste acordo é maior do que a metade do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, vale mais do que a metade de tudo o que nosso país produz em um ano. Pois bem, enquanto o mundo assistia a esta demonstração explícita de culpa, um advogado brasileiro, defendendo uma das maiores empresas do ramo no Brasil, solta a seguinte pérola da retórica (veja revista Isto É - 20/08/97, No. 1455): " Se alguém comprar uma faca de cozinha e se cortar, não pode processar o fabricante ". O ramo americano da indústria deveria contratar este brilhante advogado brasileiro, que a citada revista diz chamar-se Luis Roberto Barroso que, com esta argumentação, poderia ter economizado para eles:

DUZENTOS E QUARENTA E SEIS BILHÕES DE DÓLARES!!

Será que para os tupiniquins brasileiros e os demais terceiromundistas basta esta argumentação ? " Só fuma quem quer, só não para quem não quer ". Acho que o nosso país merece uma defesa mais inteligente ou então um acordo financeiro nas mesmas bases, vocês concordam comigo ? Para vocês terem uma idéia ainda melhor do que significam estes números, vamos fazer uma comparação rápidinha: até ao final de 1998, tudo que o Brasil arrecadou com as chamadas privatizações, a venda do comando de empresas brasileiras (todo o sistema de Telecomunicações, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a Vale do Rio Doce, as concessionárias de energia elétrica, em fim, umas 120 empresas), não renderam ao país 70 bilhões de dólares. Vocês perceberam, o tamanho do problema ? Os governos dos EUA fizeram um acordo, com as indústrias do fumo, para receberem uma indenização que equivale a mais de 5 vezes tudo o que privatizamos. Agora, raciocinem comigo sobre outro aspecto desta mesma questão: porquê, um país rico como os EUA faz acordo com as indústrias do fumo e países pobres e mal pagos, como os do terceiro mundo, insistem em fingir que quase nada está acontecendo ? Quem tiver uma idéia clara sobre isto, não hesite em mandar-me, OK? Vou repetir: Os EUA fizeram um acordo com as indústrias do fumo que equivale a mais de 5 vezes o que os governos brasileiros arrecadaram com as privatizações realizadas até o final de 1998 !! Cansei demais vocês, não ? Não pensem que sou contra as privatizações, pois, se já gargalharam de mim por eu pedir um sanduíche de queijo Minas...

Uma coisa que chega a ser criminosa no país, é o fato do cigarro brasileiro ser tão barato, o sexto cigarro mais barato do mundo. Sabe-se que, quanto mais barato é o produto, mais fuma-se, mais doenças aparecem e maior é a mortalidade por doenças tabaco-relacionadas.

cotação de fev/2007

Vejam os preços do maço de Marlboro pelo mundo, e como é baratinho (?) no Brasil:

País

Cidade Moeda local Moeda brasileira Correspondente
Inglaterra Londres 5,50 libras esterlinas 20,94 reais Gustavo Loureiro
Suíça Basiléia 5,8 francos suíços 20,33 reais Erik Vidal
EUA Navio Elation_Miami 8 dólares 18,40 reais Marcelo
Alemanha   5,90 euros 15,50 reais Antônio Gameiro
EUA Chicago 5 dólares 14,60 reais Charlie Rabello
França Estrasburgo 5 euros 13,10 reais Norbert Roeslin
Itália Veneza 3,70 euros 9,70 reais Antônio Gameiro
Portugal Lamego 2,35 euros 6,60 reais Antônio Gameiro
Turquia Istambul 3.300 ntl 6,60 reais Kamil Yavuz
Angola Luanda 200 kwanzas 5,50 reais Giuliano coutinho
China Guangzhou 15 yuan 4,42 reais Douglas leite
México Monterrey 11,40 pesos 4 reais Enrique Medina
Peru Lima 5 soles 3,32 reais Edith Alarcon
Uruguai Montevidéo 40 pesos uruguaios 3,20 reais Javier Valdez
Brasil Rio de Janeiro 1 2 2,90 reais 2,90 reais Alexandre Milagres
Argentina Buenos Aires 3,70 pesos argentinos 2,70 reais Antônio Rinaldo

 

Na região sul do Brasil (Paraná), um agricultor mostra as folhas de tabaco recém colhidas.

CONSUMO DE CIGARROS NAS ÚLTIMAS TRÊS DÉCADAS

Dados da Organização Mundial da Saúde, publicados em O globo, em 3/08/2000

Enquanto observa-se clara redução dos números de cigarros consumidos nos países desenvolvidos, nos países "em desenvolvimento" constatamos exatamente o contrário. Graças ao forte comprometimento de brasileiros, médicos, psicólogos, enfermeiros, pesquisadores, legisladores, advogados, jornalistas, professores da rede básica e do nível superior, entre outros, o Brasil do início do milênio tem mostrado um resultado melhor no controle do fumo do que o dos outros países classificados como  "em desenvolvimento".

As ações das indústrias do fumo valem muita grana na Bolsa de valores. O lucro é certo, pois as pessoas são escravas do produto, as empresas são absolutamente competentes e o poder judiciário brasileiro não costuma dar ganho de causa às vítimas do fumo. Mesmo que tenham elas sido ludibriadas por décadas pelo sistema-tabagismo ou que não tenham, as vítimas, condições de arcar com as perdas causadas pelos custos sociais e econômicos. Assim, quem compra uma ação das empresas fica só esperando as moedinhas caírem dentro de seus cofrinhos. Disto tudo, sempre tive conhecimento, porém, para mim, a novidade foi quando soube que o então secretário de saúde da minha cidade, a gloriosa cidade maravilhosa, Rio de Janeiro, era maior acionista pessoa física da América Latina da maior empresa de cigarros do meu país, na verdade, filial da anglo-americana Brown & Willianson. Dá para vocês verem, por aí, como ainda temos muito a trabalhar, a aprender e a pensar. O meu, o seu, o nosso ex-secretário de saúde ganha(va) dinheiro com a indústria que mais provoca danos à saúde...

O Globo, 07 / jun / 2001

"Adolescentes. peguem a primeira onda, antes que os tubarões da vida metam os dentes em vocês"

A indústria do tabaco está sendo processada em seu principal país sede, nos Estados Unidos da América, num dos mais importantes litígios daquele país, acusada de 7 fraudes (New York Times, 19/nov/04):

  1. Negaram os efeitos danosos do fumo à saúde;

  2. Promoveram o que eles chamaram de pesquisas independentes, financiadas por eles mesmos;

  3. Negaram que o fumo fosse adictivo (causasse dependência);

  4. Negaram que tivessem manipulado os níveis de nicotina de seus produtos;

  5. Promoveram os chamados 'cigarros menos danosos', apesar das evidências científicas de que eles não o fossem;

  6. Focaram as vendas para crianças, mesmo as de 12 anos;

  7. Suprimiram evidências para manter os documentos fora do alcance do público e dos tribunais.

Revista Philip Morris no varejo, abr/mai/jun/2004

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Caríssimos adolescentes, é bom vocês terem clareza sobre estas coisas. Vivemos num mundo cheio de corporações poderosíssimas. Muitas delas têm uma sensibilidade social totalmente de vanguarda. Outras nem tanto. Para vocês perceberem como toca a banda, vai um exemplo de como estas grandes corporações têm tentáculos gigantes:

Grupo ALTRIA

Produtos com cancerígenos (!)

Produtos alimentícios inocentes

Philip Morris International logo

Philip Morris International

Kraft Foods International

Cigarros Bond Street Biscoitos Bono
Cigarros Chesterfield Sonho de Valsa
Cigarros Diana Biscoitos Trakinas

Cigarros F 6

Biscoitos Bis
Cigarros Lark Q-refres-Ko
Cigarros Marlboro Biscoitos Club Social
Cigarros Merit Tang
Cigarros Parliament Clight
Cigarros Virginia Slims Frisco
Cigarros Longbeach Gelatinas, flans e fermento Royal
Cigarros Start Laka
Cigarros Vatra Milka
Cigarros Red & White Toblerone
Cigarros S G Diamante Negro

Meus Brôs, sei que a cabeça de vocês deve ficar tonta com tanta informação, porém, o tabagismo começa na adolescência ( em 90% dos casos ). Se vocês não se tocarem sobre o mundo em que estão vivendo agora, na idade em que vocês estão, podem vir a tomar decisões equivocadas. Cuidem-se mais. Aprendam mais. Percebam melhor os detalhes da comunicação das corporações. Nem sempre o que uma corporação deseja é o melhor para vocês. Fiquem espertos, pero, sin perder la ternura jamás!


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