Capítulo 8

AFINAL, QUAL É A DA NICOTINA ?

 

"Todas as compulsões são tentativas de saciar uma carência interna através de algo externo". Luiz Alberto Py, escritor e psicanalista.


estrutura da nicotina

A nicotina é um é um líquido amarelado e oleoso, responsável basicamente por duas coisas: dependência e vasoconstrição. Duzentos e vinte toneladas desta substância são consumidas por ano no mundo, fumadas, aspiradas ou mascadas.

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A fórmula molecular da nicotina data de 1843 - C10 H14 N2, sendo que a primeira síntese em laboratório ocorreu em 1904. No entanto, desde 1690, na França, a nicotina já era conhecida e era usada como inseticida na agricultura (inseticida de contato, de ingestão e fumigante). 

Portanto, saibam, logo de cara, que um fumante é alguém que está ligado a uma substância tão ruim que serve até para matar insetos.

Primeiro vamos tentar entender o que é essa dependência, de que falamos acima:

Existem substâncias que, após a pessoa entrar em contato com elas, às vezes por pouco tempo, criam laços, como se fossem companheiros muito antigos, dos quais se torna muito difícil (para muitos praticamente impossível) se livrar. Esta ligação pode ser extremamente forte e durar a vida toda da pessoa, que perde toda a capacidade de ser verdadeiramente livre.

Tem-se preferido, atualmente, usar o termo drogadicto, ao invés de viciado ou dependente químico, seja de qual droga estivermos falando. O termo adicção vem da época da escravatura, quando um escravo ficava devendo algo ao feitor. Dizia-se que ele estava "adicto ao seu senhor".

ilustração do Dr. Leonardo Cardoso, médico

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Antigamente, brincava-se que um cigarro aceso era algo que tinha uma brasa numa ponta e um burro na outra.

Hoje, reconhece-se, claramente, que um cigarro aceso tem "uma brasa numa ponta e um escravo na outra!!".

As substâncias que geram adicção mais conhecidas são: nicotina, cocaína , heroína e álcool. Dos quatro, até por ser socialmente mais permitida, mas não só por isto, a nicotina pode ser considerada a mais forte neste sentido, aquela que é a mais difícil de abandonar. Não quero dizer com isto que aqueles, que infelizmente ficam dependentes da "coca", ou da heroína, tenham uma facilidade muito maior, e o que dizer do álcool ? Vocês já devem ter ouvido falar no AA (alcoólicos anônimos), uma idéia iluminada para ajudar pessoas dependentes de álcool. Esta instituição foi criada, justamente, para prestar maior auxílio aos que tentavam abandonar o alcoolismo sem sucesso.

foto AFP, publicada em O Globo, 10/julho/2003

Iraquianos de 9 ( com cigarro) e 12 anos (cheirando cola).

Esta imagem terrível também pode ser vista aqui, no Rio de Janeiro, com alguma frequência.

É bom não esquecermos dos "calmantes". Vou, inclusive, rechear este relato com um fato ocorrido comigo. Por acaso, durante um papo com um micreiro (adepto da informática), vizinhos de meus pais, na bucólica Miguel Pereira, cidadezinha do interior do estado do Rio de Janeiro, aonde nem sinal de trânsito existe, nem assaltos há, descobri que o segundo remédio mais vendido numa das grandes farmácias do lugarejo era um determinado calmante. Aliás, o quinto e o oitavo também (para matar a curiosidade de vocês, o primeiro era um remedinho em gotas para dor e febre de criança). Este informata prestava serviço para as farmácias da região, por isso dispunha das informações. Nossa civilização de final de século também está dependente de calmantes de toda a sorte, remédios para diminuir o nervoso, para dormir, para tirar a depressão, etc. Há muitos pais, mães, tios e avós de vocês que, há muito tempo, não sabem o que é encarar a vida sem comprimidos de Bromazepan, Lorazepan ou Diazepan.

gentileza do Laboratório GlaxoSmithKline

O perrengue todo está em nosso cérebro, principalmente num local chamado Núcleo Accumbens, que faz parte do sistema mesolímbico - dopaminérgico. O Locus Ceruleus, depois do contato com a tia Nicota, fica querendo sempre um cadinho mais, um cadinho mais, ficando doido de pedra quando não lhe dão e fissurado por uma nova tragada...

Um fumante dá 10 tragadas por cigarro. Portanto, por cada maço, o seu cérebro recebe 200 impactos de nicotina por dia, 73.000 impactos por ano. Nenhuma outra droga (cocaína, heroína, maconha) e nenhuma outra prática compulsiva (bingo, jogo do bicho, corridas de cavalos) tem tamanha frequência de ação sobre os neurônios.

Nosso cérebro é ainda um grande mistério, apesar de todos os avanços que julguemos ter alcançado. Estamos longe de compreender coisas como telepatia, sonhos premonitórios, sensações de dejá vú", meditação, possessão, etc. Algumas descobertas significativas são a existência de substâncias chamadas neurotransmissores, liberadas pelos receptores de nicotina. Existem diversos neurotransmissores conhecidos, fora uma infinidade de outros a serem identificados:

Se uma pesssoa resolvesse secar uma folha de alface e dela fazer um cigarro, poderia fumar por um longo tempo e, quando decidisse, não teria qualquer dificuldade para mudar de maluquice. Com o cigarro de tabaco a coisa é bem diferente. Uma vez que um(a) fumante tenha descoberto a fábrica de prazer, bem-estar, coragem, bom humor e raciocínio, não aceitará com facilidade buscar esse manacial de sensações boas de outra forma. Até porque, desconhece que outras formas existiriam para produzir dopamina, serotonina e que tais.

A nicotina engana muito. Ao primeiro contato (seja para aquele que nunca fumou ou, para quem está há algum tempo sem fumar), as reações são ruins : tonteiras, tosse, enjôos, vômitos e batimento lento do coração. São reações típicas de uma intoxicação.

O(a) bacana que insiste em fumar, passa então para uma outra fase,chamada de tolerância. É quando o organismo começa a se adaptar àquele tóxico e começa a não mais sentir os tais "efeitos ruins".

É a partir desta fase, que instala-se a dependência física e psíquica. Acreditem, isto ocorre muito mais rapidamente do que vocês podem imaginar. Para muitas pessoas, poucos dias ou semanas podem ser suficientes para torná-las dependentes "ad eternum", da presença de nicotina em seu sangue. Todo, mas todo mesmo, cuidado é pouco. A grande maioria dos adolescentes adictos à nicotina que entrevistamos, nos afirmaram que jamais acreditaram que ficariam presos à droga, como ficaram. E, menos ainda, que isto aconteceria com tamanha rapidez.

A dependência a qualquer das drogas que mencionamos lá em cima, tem como característica comum, o fato de que sem aquela substância correndo em suas veias, artérias, tecidos, glândulas e neurônios, a vida não tem a mesma graça e, durante atividades comuns, os sintomas vão desde uma irritação insuportável à apatia ou desinteresse completo.

Um relatório americano de 1988, pelo U.S. Surgeon General (o Ministério da Saúde americano), baseado em uma série de pesquisas estabeleceu as seguintes premissas:

No entanto, queridos adolescentes, vocês sabem o que disseram os presidentes das sete principais indústrias de cigarros (os Big Tobacco) aos juízes americanos em 1994, quando foram chamados a depor em juízo? Declararam que nunca souberam que os produtos feitos com tabaco pudessem viciar e, muito menos, que seria a nicotina a responsável por esta adicção !?! Ao final do processo, lá nos Estados Unidos, ficou provado que eles sabiam dessa verdade há quase 50 anos e que omitiram isso do público consumidor e da sociedade em geral.

Apesar de afirmarem desconhecer que a nicotina criava dependência, plantaram, no Sul do Brasil, sementes americanas ilegais de um fumo com uma concentração ainda maior de nicotina, o TABACO Y 1. O que deveria ter sido um escândalo, foi prontamente abafado. Sementes banidas nos Estados Unidos foram semeadas entre nós...

O Ministro da Saúde à época, 1995, Prof. Adib Jatene, e o Dr. Marcos Moraes, então, diretor do Instituto Nacional do Câncer (INCa), tentaram ajudar, denunciando as indústrias de tabaco, afirmando que estaria sendo adicionada amônia ao fumo, para que houvesse mais liberação de nicotina.

Uma das coisas que mais contribui para a adesão à nicotina, é o acesso fácil à droga. Nenhuma outra droga existente pode ser encontrada tão facilmente no Brasil e em diversos países quanto a nicotina, apesar dos produtos de tabaco serem hoje considerados os mais danosos à saúde humana fabricados pelo próprio homem.

Máquina de vender cigarros numa rua japonesa

Querendo avaliar esta oferta de produtos de tabaco entre nós, resolvi que, num sábado, em Junho de 1998, iria fazer o trajeto de retorno do consultório para casa, caminhando ao longo de duas grandes vias, desde o início de Ipanema, até ao final do Leblon, aonde moro. Primeiro, na véspera, medi a distância, pelo odômetro do carro: 3.400 metros. No dia da pesquisa fui trabalhar de ônibus, contando voltar a pé, após o último cliente, o que foi feito. Bom, vou passar pra vocês os dados que levantei, OK? Ao todo, descobri 76 (setenta e seis !!) pontos de venda de nicotina (quer dizer, de cigarros, charutos, etc.). No comércio liberado de tabaco, me surpreendi com os maiores vendedores de nicotina: as bancas de jornais. Trinta e dois dos 76 pontos de venda são os populares "jornaleiros" ( 42% ). Confesso que não tinha esta idéia, sempre achei que eles vendessem apenas jornais, revistas e figurinhas do Pokemon. Bares / botequins / restaurantes / lanchonetes / lojas de sucos e (pasmei) até padarias, incrementam o negócio. Ainda pude encontrar nicotina à venda em 1 posto de gasolina, 2 supermercados, 1 camelô e numa boite.

Creio que é importante que vocês percebam que a oferta disseminada de nicotina (que prejudica qualquer tentativa de fiscalização) é totalmente prejudicial à vocês, por mais que a esta liberdade possa parecer legal. Em 3.400 mts., existem em apenas duas ruas (Visconde de Pirajá e Ataulfo de Paiva), SETENTA E SEIS PONTOS DE VENDA DE NICOTINA. Era preciso, portanto, andar menos de 45 metros para se abastecer da droga. Acreditem, nenhuma outra substância que cause dependência física e psíquica tem um acesso tão facilitado. Nem a danada da cachaça !! (aliás, por falar na cachaça, outro dia caminhava perto de casa pela manhã, acho que ia comprar pão, quando de um grupo de mendigos, emergiu um que, se dirigindo a mim aos gritos de "não pisa!!", "não pisa!!", me fez recuar assustado, temendo haver invadido alguma reserva, até entender que, o que ele singelamente desejava era que eu não destruísse uma guimba de cigarro que alguém havia acabado de jogar no chão).

Em diversas cidades européias a venda de cigarros só é permitida em TABACARIAS e garanto-lhes não haver uma tabacaria em cada esquina.

Em Janeiro de 1999, resolvi conferir qual o movimento que ocorrera, seis meses após a nossa primeira pesquisa nas duas principais ruas do Leblon e Ipanema. Desejávamos saber como havia evoluído o comércio de nicotina, já que haviam sido seis meses de informações alertando sobre os males do fumo, em praticamente toda a imprensa brasileira. Confesso a vocês, que não fora eu um sujeito entusiasmado (palavra grega que define aquele que é possuído por um Deus), a vontade que teria dado era a de sentar-me junto ao meio-fio de uma daquelas vias e decidir parar de tentar enxugar gelo, após haver enxugado as lágrimas. O número de pontos de venda de nicotina, ao invés de uma sensata diminuição, apresentava-se aumentado. Não eram mais 76, os pontos de venda, mas 81. Houve um crescimento de 6,5 % na oferta indiscriminada e criminosa de cigarros !!! Enquanto discute-se o tema tabagismo em todo o planeta, por aqui, bem nas nossas barbas, há um aumento na oferta da droga. As bancas de jornais estão ainda mais presentes, agora com 44 % do total de pontos de venda. Agora, precisa-se caminhar apenas 42 metros para adquirir os produtos de tabaco, produtos esses que matam, no mínimo, um drogadicto em cada dois.

Confesso à vocês, que em alguns destes momentos bate uma sensação de que não estamos mais ali, como profissionais de saúde, à beira dos leitos dos pacientes, para salvar vidas. Estamos ali para servirmos de testemunhas do descalabro e da imbecilidade reinantes...

BANCA DE JORNAL EM IPANEMA, RIO

Além do absurdo de venderem a droga nicotina, ainda são painéis para anunciar marcas de cigarro.

Em agosto de 2001, insistimos nessa coisa masoquista de ver como a destruição anda rápido. Refizemos a pesquisa nas mesmas duas vias avaliadas anteriormente e, como imaginávamos, houve novo aumento nos pontos de venda de nicotina. Em 2004, comprovando a tese de que tem gente que gosta de apanhar, lá fomos nós de novo, para constatarmos que os pontos de venda haviam passado para 95...

Quanto, em média, é preciso caminhar para comprar tabaco nas ruas Ataulfo de Paiva e Visconde de Pirajá, situadas na zona sul da cidade do Rio de Janeiro?

1998 76 pontos de venda apenas 44.7 metros
1999 81 pontos de venda apenas 41,9 metros
2001 89 pontos de venda apenas 38,2 metros
2004 95 pontos de venda

apenas 35,7 metros

O absurdo dos absurdos: 95 pontos de venda de droga, em 3.400 metros! É dose para javali enfurecido!!

Como médico, pesquisador, cidadão e eleitor, sinto-me autorizado a solicitar:

SENHORES E SENHORAS LEGISLADORES e MEMBROS DO JUDICIÁRIO, POR FAVOR, MEXAM-SE !?! EM 2010, A SOUZA CRUZ TINHA 260 MIL PONTOS DE VENDA NO BRASIL. EM 2011, PASSOU A TER 300 MIL!?!

Enquanto este capítulo foi lido, 5 brasileiros morreram por doença relacionada com o tabaco.

Se os Senhores e Senhoras Legisladores e Membros do Judiciário ainda não se sensibilizaram por este número estapafúrdio de mortes, vejam as recentes manchetes dos jornais do Rio de Janeiro:

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_Souza Aguiar corta 40% das cirurgias por falta de roupa, Jornal O dia, 17/jan/2005_ por falta de vestimentas esterilizadas no Centro Cirúrgico da maior emergência da América Latina, a do Hospital Municipal Souza Aguiar, 40% das operações são adiadas.

_Filho acusa hospital de negligência, Jornal O Dia, 17/jan/2005_ filho de paciente que faleceu na segunda maior emergência da cidade, a do Hospital Municipal Miguel Couto,  afirma que teve que comprar, para o atendimento do pai, de termômetros à fraldas descartáveis.

_Cardoso Fontes recusa pacientes, Jornal Extra, 21/jan/2005_ por falta de condições de atendimento, incluindo falta de macas e cadeiras, o setor de emergência do Hospital Municipal Cardoso Fontes, em Jacarepaguá, encerrou os atendimentos para novos casos, exceto os de maior gravidade, referenciando a imensa maioria para a emergência do Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca.

_Funcionários e pacientes protestam com abraço no Hospital da Lagoa, Jornal O Globo, 20/jan/2005_ o abraço simbólico foi uma forma de protesto contra as más condições de trabalho a que estão submetidos os profissionais do Hospital Municipal da Lagoa, devido à falta de materiais como luvas e fios cirúrgicos, medicamentos, roupas de cama, kits de laboratórios para exames. O tomógrafo, o eletrocardiógrafo e a esteira ergométrica estão quebrados.

_Comida estragada no hospital, Jornal Extra, 16/dez/2004_ trinta e quatro pessoas, entre médicos, enfermeiros e acompanhantes de clientes do Hospital Municipal Cardoso Fontes foram intoxicadas por quentinhas servidas pela direção da Unidade, adquiridas para cobrir a inexistência de refeições feitas no prórpio hospital, devido à paralisação por  falta de pagamento à empresa uqe habitualmente é responsável por este abastecimento.

_Doentes sob ameaça de fome, Jornal Extra, 10/dez/2004_ sem receber, fornecedores diziam que iam suspender, no dia seguinte, as refeições de pacientes em hospitais da prefeitura...

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_Sem cirurgias nem internações, Jornal Extra, 27/jan/2005_ Hospital da Lagoa manda pacientes para casa. Gerente médica alega falta de remédios e material.

_Sofrimento da espera se repete, Jornal Extra, 27/jan/2005_ Aposentado Porfírio Rodrigues ficou um ano na fila por cirurgia cardíaca e agora aguarda há dois meses por operação na carótida, no Hospital do Servidores do Estado: "Toda semana diziam que eu seria operado no dia seguinte e nada. Uma vez, cheguei a ser pré-anestesiado e cancelaram na última hora. A justificativa era sempre a falta de vaga na UTI. Entre abril de 2003 e maio de 2004, aguardou pela cirurgia de ponte de safena no Instituto Estadual Aloísio de Castro, até que desistiu e foi operado, em junho de 2004, no Hospital Geral de Bonsucesso.

_Hospital de Ipanema alega crise e decide suspender as internações, Jornal O Globo, 28/jan/2005_ O diretor-geral do Hospital Municipal de Ianema, Dr. Octávio Pires Vaz distribuiu um memorando determinando que novos pacientes não sejam admitidos na unidade até segunda ordem, citando "a grave situação em que o hospital se encontra" e suspendendo as cirurgias agendadas.

_Hospitais começam a parar, Jornal Extra, 28/jan/2005_ Unidades de Ipanema e Piedade cancelam cirurgias eletivas. Outros quatro reduzem atendimento. Segundo o presidente da Associação dos Médicos Residentes do Estado do rio de Janeiro (Amerej), "trabalhamos administrando o caos".

E para completar a trágica situação de nossa saúde pública, a manchete do Jornal O Globo não é tranquilizadora:

_Cesar lava as mãos, Jornal O Globo, 29/jan/2005_ O prefeito da cidade do Rio de Janeiro diz que nada pode fazer se União não aumentar verba para hospitais municipalizados. Em nota, o Ministério da Saúde teria afirmado que "a prefeitura não teria conseguido demonstrar técnicamente a necessidade de aporte de mais recursos para investimento nos hospitais municipalizados, que justifiquem o aumento do repasse".

Diante disto, não consegui parar de cantarolar um trecho do antigo sucesso da Blitz, entitulado "Você não soube me amar". Aliás, este título tem muito a ver com a forma com que muitas autoridades tupiniquins exercem a função para a qual nós os elegemos para exercer e ainda por cima pagamos para que este serviço seja (bem) prestado:

_Eu dizia que era ela e ela dizia que era eu!

Num cenário de tão devastadora realidade, como a estampada em nossos jornais diários, fonte de um nível de estresse inimaginável para os funcinários públicos ligados à saúde da maioria da população, aquela que recorre às Unidades Públicas (certamente não aquelas às quais recorrem os Senhores e Senhoras legisladores quando adoecem, fumar, por ser a maior fonte de doenças existente, é totalmente desaconselhado...

Devemos, todos nós, reconhecer que um país com tantas dificuldades sanitárias, como as estampadas acima, precisa encarar a situação com mais preocupação e agilidade, assim como fazem países mais ricos, do porte dos Estados Unidos da América do Norte. Neste exato instante em que digito estas linhas, o Departamento de Justiça dos EUA, representando o povo americano, está num processo judicial em que cobra 280 bilhões de dólares à indústria do tabaco, acusando-a de haver cometido fraudes contra a população daquele país. E certamente por lá não falta lençol ou há comida estragada para ser servida aos funcionários e acompanhantes, nem as ambulâncias estão quebradas, ou o aparelho de Raios X parou, ou a pinça está 'quase consertada', ou "a sua cirurgia está adiada não sei para quando", etc...

Por que, nos EUA, quem empurrou nicotina pela goela abaixo do povo americano está sendo devidamente processado e no Brasil, dos recursos escassos ou mal aplicados, o legislativo e o judiciário são tão tímidos? Será que os membros destes poderes não lêem os mesmos jornais que nós?

sobre fotos da Revista Philip Morris no Varejo, ano III no.10

 

 

Os pontos de venda colocam, num mesmo visual, inocentes atrativos infantis (balas, biscoitos, chicletes, caramelos, etc.) e as diversas marcas do matador de gente

Eu não prego aqui uma cruzada contra estes comerciantes, pois, se eles assim agem, creio firmemente ser por dois motivos, até por acreditar piamente na bondade da alma humana: 

  1. a lei brasileira ainda permite este descalabro 

  2. falta informação informação adequada, e em quantidade suficiente, sobre a gravidade do problema tabagismo.

Houve um grande erro de avaliação quando criou-se a lei federal proibindo a publicidade de tabaco em qualquer forma de mídia, exceto nos pontos de venda. A indústria é cheia de gente esperta, malandra pra dedéu, que saca longe o que tem que ser feito, mesmo que isto ajude as pessoas a irem para o céu. De repente, não mais que de repente, perceberam que já que não podem mais anunciar na mídia, apenas nos pontos de venda, tinham que criar milhares de pontos de venda novos e incrementar os que já existiam. Pois bem, meus amigos adolescentes, isto é o que está acontecendo. Este pessoal, é demais. Pena que estão ajudando a matar as pessoas, mas que eles são inteligentes, isto eles são. Nenhum deles deve conhecer a lei do Karma, mas eles são inteligentes. Agora, todo jornaleiro virou ponto de venda  e foi totalmente incrementado, tendo até a conta de luz de muitos deles sendo paga pela indústria e sob débito bancário automático. Reformas de padaria estão sendo feitas com ajuda da indústria do fumo, contanto que elas passem a vender cigarrinho além do pãozinho. Isto tudo seria muito engraçado, se o fumo não fosse a maior causa de morte evitável do mundo atual. O tabagismo foi um imenso erro da humanidade, um equívoco lamentável. Entretanto, nada justifica que continuemos a insistir nele, por mais atrasada que a nossa civilização pareça destinada a ser.

A impressão que tenho é que, após deliberarem sobre as novas estratégias de marketing, a turma da indústria deve ir para a happy hour rindo muito, tendo certeza de que idiotas não são seres raros na praça.


 
Propaganda descarada - Drauzio Varella - Folha de SaoPaulo - 20-nov-2010 -



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