Entrevista ao

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Fevereiro - 2007

Perdendo o fôlego

90% dos fumantes já estavam viciados antes dos 18 anos. Não faça parte desta estatística!

Por Larissa Coldibeli


Já foi a época em que o cigarro era sinônimo de charme e glamour. O que antes era símbolo de transgressão, de ser "o descolado", hoje em dia é sinal de burrice. Os prejuízos que o tabaco causa à saúde são bem conhecidos, diferente do que acontecia há 20 anos, quando provavelmente seus pais começaram a fumar.

Campanhas contra o tabaco, a proibição do fumo em alguns estabelecimentos e o fim das propagandas contribuem para que o número de adolescentes dependentes diminua. Pesquisas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostram que houve queda no número de estudantes entre 12 e 18 anos que experimentaram cigarro: em 1997 eram 32,7%, caindo para 21,7 em 2004, após o fim da publicidade.

Mesmo assim, 12% dos jovens entre 12 e 17 anos fumam, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). Mas quais são os fatores que fazem os adolescentes de hoje começarem a fumar? "Curiosidade e fácil acesso", garante o penumólogo Jorge Alexandre Sandes Milagres, do CAT - Centro de Apoio ao Tabagista. "Além disso, o cigarro faz com que se sintam adultos, principalmente para aqueles que cresceram vendo os pais fumando", revela.

A adolescência, marcada por sentimentos conflitantes e necessidade de novas experiências, é a porta de entrada para o vício. Ainda segundo a OMS, 90% dos fumantes se torna dependente antes dos 18 anos. O médico explica: "Ao primeiro contato, seja para aquele que nunca fumou ou para quem está há algum tempo sem fumar, as reações são ruins: tonteiras, tosse, enjôos, vômitos e batimento lento do coração. São reações típicas de uma intoxicação. O jovem que insiste em fumar passa então para uma outra fase, chamada de tolerância. É quando o organismo começa a se adaptar àquele tóxico e começa a não mais sentir os tais efeitos ruins. É a partir desta fase que instala-se a dependência física e psíquica".

Dependência
A nicotina é a grande responsável pela dependência. A fumaça aspirada vai no sentido boca > traquéia > brônquios > alvéolos > vasos capilares, onde, enfim, alcança o sangue. A partir daí, a nicotina circula por todo o corpo, inclusive o cérebro, que libera os neurotransmissores responsáveis pela suposta sensação de bem-estar.

 

Os principais neurotransmissores:

  • Dopamina: dá uma gostosa sensação de alegria, bem-estar, felicidade e prazer. Também reduz o apetite.
     

  • Serotonina:estimulante, dá coragem, bom-humor e controla o apetite. Pesquisas apontam que durante a adolescência, os níveis de produção desse neurotransmissor caem, o que explicaria o fumo como repositor da serotonina.
     

  • Noradrenalina: aumenta a memória e a capacidade de concentração.
     



  • O tempo que uma pessoa demora para se viciar varia muito. Alguns, demoram meses, outros, dias. O mesmo acontece com a tolerância do organismo à falta de nicotina. Há pessoas que conseguem ficar dias sem fumar, enquanto outras aguentam apenas poucas horas. Mas quando a crise de abstinência acontece, os sintomas são bem parecidos. A vontade que se tinha normalmente fica insuportável e a pessoa só pensa nisso. Surge a famosa irritação, que tende a crescer e outros sintomas, como ansiedade, tristeza, depressão, perda de concentração para atividades simples, insônia ou sonolência.

    Os "alternativos"
     

    Pier


    Pier Chioccola, 18 anos, fuma desde os 16: "No começo, fumava só na balada, de vez em quando um cigarro de cravo. Depois, foi ficando mais frequente, quando vi, meus pais já sabiam e apesar de não gostarem, eu continuei". É mais ou menos assim que os adolescentes de hoje começam. Para fugir da culpa por adquirir um hábito reconhecidamente prejudicial, eles recorrem a cigarros alternativos, como os de sabores, os bidis, de palha e outros. O que eles não podem imaginar é que o aparentemente inofensivo cigarro de cravo é três vezes mais forte: "O tipo de tabaco destes cigarros contém índices maiores de química, como alcatrão, nicotina e monóxido de carbono", alerta o pneumólogo.

     

    Alternativos:

  • Cigarros de cravo: são os mais nocivos, além de impregnar tudo e todos ao redor com seu cheiro forte.
     

  • Bidis: são bonitinhos, com cara de hippie e gosto de baunilha. Não tem filtro, ou seja, muito mais alcatrão e monóxido de carbono nos seus pulmões.
     

  • Cigarro de palha: as tragadas são mais profundas e concentradas, pois a palha não permite a passagem de ar.
     

  • Narguilé: originário do Oriente, é um cachimbo estiloso que faz sucesso em rodas de amigos. Uma rodada pode equivaler a um nocivo maço de cigarros.
     



  • Outro vilão do seu pulmão é a associação de cigarro e álcool. Ao passar pelos rins, enquanto circula na corrente sanguínea, uma parte da nicotina é eliminada pela urina. Ao ingerir bebidas alcoólicas, o pH do sangue é alterado, eliminando a substância mais rapidamente. Daí, os fumantes acenderem um cigarro atrás do outro enquanto bebem. Mesmo para aqueles que só fumam de vez em quando, vale lembrar que o fumo é responsável por 30% das mortes por câncer. Os principais são câncer de pulmão, boca, laringe, esôfago, pâncreas, rim bexiga e colo de útero. Doenças como bronquite, pneumonia, enfisema pulmonar, infarto e derrame também são mais recorrentes em fumantes. Ou seja, fique fora dessa!

    Fotos: Stck. Xchng

    Serviço:

    CAT- Centro de Apoio ao Tabagista
    Tratamento de fumantes e orientação de adolescentes
    Rua Djalma Ulrich, 163 - sala 602
    Copacabana - Rio de Janeiro

    www.cigarro.med.br

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