Risco de câncer é
maior entre os jovens fumantes
Os adolescentes continuam considerando o cigarro
um dos símbolos mais charmosos do rito de passagem para a vida adulta. E agora
começam a fumar cada vez mais cedo. Pior: segundo uma pesquisa divulgada pelo
Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos, a pouca idade é um gatilho que
potencializa o coquetel de quase 4.000 substâncias tóxicas contidas no cigarro.
O estudo derruba a crença de que as conseqüências nocivas das tragadas à saúde
só aparecem quando o hábito de fumar é mantido durante a vida. Quem começa a
fumar na puberdade, mesmo abandonando o vício mais tarde, tem duas vezes mais
possibilidade de desenvolver câncer nos pulmões do que aqueles que acendem o
primeiro cigarro depois dos 20 anos.
"Paga-se caro pela tragada precoce", afirma o psiquiatra José Carlos Galduróz, pesquisador do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, Cebrid.
O cigarro está associado a 90% dos casos de câncer no pulmão e a 40% das doenças do coração. A pesquisa americana, feita na Universidade da Califórnia, em São Francisco, analisou o tecido do pulmão de 143 fumantes. Entre os que começaram a fumar entre 7 e 14 anos, foram observadas 164 alterações genéticas em 10 milhões de células. Na faixa etária dos 15 aos 17 anos, havia 115 alterações (cerca de um terço menos), caindo para 81 entre aqueles que só acenderam o primeiro cigarro depois da adolescência. "É um dado assustador", afirma o pneumologista Alexandre Milagres, coordenador do Centro de Apoio ao Tabagista do Rio de Janeiro. "As alterações genéticas levam ao câncer e são irreversíveis."
O combate ao vício entre os jovens é especialmente complicado. Com eles não funciona o apelo de que fumar pode levar à morte. Aos 14 anos, ninguém está preocupado com isso. Além do mais, a associação, feita pela propaganda, entre cigarro, liberdade e rebeldia é um ótimo apelo numa fase em que a busca de novidades está aguçada. O problema é que a empolgação leva ao vício. Bastam seis semanas para transformar um garoto num dependente de nicotina.
Enquanto existe uma tendência mundial de os velhos fumantes abandonarem o vício, o hábito de fumar não pára de crescer entre crianças e adolescentes. Nos Estados Unidos, em 1991, 27% deles fumavam. Seis anos depois, esse contingente passou para 36%. No Brasil, levantamento feito pelo Cebrid em escolas públicas de dez capitais indica que o número de estudantes que dão as primeiras tragadas na faixa etária dos 10 aos 12 anos dobrou em dez anos. De um total de 40 milhões de fumantes no país, cerca de 3 milhões têm até 19 anos.