São Paulo, Segunda-feira, 19 de Julho de 1999
CAMPANHA
FOLHATEEN
Cigarro e adolescência é combinação de alto
risco
da Reportagem Local
Se, pela terceira semana consecutiva, câncer
de pulmão é tema da campanha antitabagismo do Folhateen, já dá para perceber que
o assunto é sério. Para jovens fumantes pode ser pelo menos duas vezes mais
sério.
Já está cientificamente comprovado que o desenvolvimento de um tumor maligno
está relacionado com alterações do DNA das pessoas. "As mais recentes pesquisas
mostram que essas alterações também podem estar relacionadas com a fase da vida
em que uma determinada exposição a substâncias cancerígenas se deu", afirma o
pneumologista Alexandre Milagres, médico do Centro de
Apoio ao Tabagista do Rio de Janeiro.
No caso do câncer de pulmão, cigarro e juventude é uma combinação de alto risco.
Uma pesquisa coordenada pelo geneticista John Wiencke, da Escola de Medicina da
Universidade da Califórnia, em San Francisco, divulgada em abril deste ano,
constatou que jovens fumantes apresentam duas vezes mais alterações de DNA do
pulmão em consequência das substâncias químicas que compõem o cigarro.
Ao analisar o tecido do pulmão de não-fumantes, não atacado pelo câncer, os
pesquisadores observaram 32 alterações do DNA em 10 milhões de células. Já no
tecido de pessoas que começaram a fumar entre 7 e 15 anos, foram constatadas 164
alterações.
Entre os que aderiram ao tabagismo dos 15 aos 17 anos, houve 115 alterações de
DNA, e esse número cai para 81 entre aqueles que só começaram a fumar depois dos
20 anos. É só fazer as contas para perceber que jovens fumantes estão se
arriscando em dobro a ter câncer de pulmão.
E quantos jovens! Nos EUA, estima-se que 3 milhões de adolescentes são fumantes.
Dentre eles, um terço vai morrer de doenças ligadas ao cigarro. No Brasil, dados
do IBGE de 1989 indicavam que 2,8 milhões de jovens até 19 anos eram fumantes.
As estatísticas comprovam a gravidade desse risco. O tabagismo é responsável por
30% dos cânceres em geral e 90% dos tumores malignos de pulmão em particular.
Segundo Milagres, a relação de causa e efeito
entre tabaco e câncer do pulmão foi estabelecida há várias décadas, quando esse
tumor, entre todos os tipos de cânceres, passou a ser a principal causa mortis
de homens a partir da década de 60 nos EUA.
No caso das mulheres, a mesma relação de causa e efeito se estabeleceu nos anos
90. "As mulheres norte-americanas entraram posteriormente no vício e passaram a
morrer pelo câncer de pulmão décadas mais tarde", diz o médico. E o mesmo está
acontecendo com as inglesas. No Terceiro Mundo, onde esse mesmo processo
aconteceu com dezenas de anos de atraso, espera-se que algo semelhante ocorra
entre 2010 e 2020.