Newsweek.com

Newsweek

Saúde: A Forma de Salvar Milhões de Vidas é Prevenir o

 

Tabagismo

 

Michael R. Bloomberg

NEWSWEEK                             

29 set  2008

Todos os dias pelo mundo, ocorrem tragédias que são totalmente evitáveis: irmãos sepultando irmãos, cônjuges sepultando cônjuges, e crianças sepultando pais _ todos morrendo prematuramente. Qual é a causa principal destas mortes preveníveis? É a tuberculose? A aids? A malária? Cada uma destas recebe um grande espaço de cobertura dos meios de comunicação juntamente com centenas de milhões de dólares em verbas _ o que é justo. Mas há uma outra epidemia mortal que mata mais pessoas do que todas estas três doenças somadas, e até recentemente, ela quase não recebia atenção  do público: o tabagismo.

O tabaco tornou-se a principal causa mundial de morte. Sobre quantas mortes estamos falando? Imagine um ginásio de basquetebol de uma escola totalmente lotado. Aproximadamente, morrem 14.000 pessoas morrem a cada dia pelo fumo de tabaco. Se nós não fizermos nada, o tabaco poderá matar 1 bilhão de pessoas até o final deste século.

Mas só se nós não fizermos nada.

Em Nova York, nós vimos o quão eficazes os programas anti-fumo podem ser. Em 2002, eu assinei uma lei proibindo o fumo em todos os locais de trabalho. Houve uma enorme gritaria, mas então algo aconteceu: as pessoas amaram esta decisão. Bares e restaurantes viram os seus negócios aumentarem. Garçonetes beijaram-me e disseram-me que eu salvei-lhes as suas vidas. E logo em seguida, cidades e estados pelo país a fora _ junto com a Inglaterra, a Irlanda, a França, a Itália e outros países com níveis altos de consumo de fumo _ começaram a aprovar leis similares. Ao lado da proibição do fumo, nós aumentamos os impostos sobre o cigarro em Nova York, exibimos campanhas público-educativas de alto impacto e provimos adesivos de nicotina gratuitos. O resultado? Após 10 anos não vendo declínio no tabagismo, nós reduzimos o número de fumantes em 21% _ e reduzimos o fumo entre adolescentes em mais de 50%. Há 300.000 fumantes a menos na cidade de Nova York do que havia há seis anos atrás.

Enquanto o uso de tabaco está agora em declínio em Nova york e em algumas nações industrializadas, ainda assim, ele está crescendo em países como a Rússia e a Indonésia. Mais de 80 por cento das mortes por tabaco nas próximas décadas estarão nos países em desenvolvimento, incluindo a China e a Índia. Mas discutindo a situação com filântropos e especialistas em saúde pública, eu cheguei a conclusão de que os dólares destinados à saúde pública eram  aplicados no combate a outras causas de morte e quase nenhum recurso existia para lutar contra o tabaco.

Dois anos atrás, eu decidi mudar isto. Reforçado por um tratado de controle do tabaco internacional, eu destinei 125 milhões de dólares para um novo esforço global para redução do uso do tabaco (doação que, desde então, elevou-se para 375 milhões de dólares). Bill e Melinda Gates juntaram-se a este esforço, com mais 125 milhões de dólares deles. E, em parceria com a Organização Mundial da Saúde, nós desenvolvemos uma estratégia denominada MPOWER, que inclui seis soluções que comprovadamente salvam vidas:

Controlar o uso do tabaco e políticas de prevenção. Eu sempre digo, “se você não pode avaliar a dimensão de um problema, você não pode administrá-lo”. Para determinar a efetividade de nossos esforços, é essencial monitorar quais países adotam quais estratégias _ e como estas políticas afetam as taxas de consumo de fumo.

Proteger as pessoas do fumo passivo. Os ambientes livres de fumaça são as únicas formas comprovadas de proteger as pessoas _ e como nós observamos em Nova York, eles são populares, eles melhoram a saúde e eles são bons para os negócios.

Oferecer ajuda às pessoas para pararem.  A maioria dos fumantes deseja abandonar mas acha difícil parar. Aconselhamento e medicamentos _ tais como adesivos e gomas de mascar de nicotina _ podem triplicar as chances de sucesso.

Alertas sobre os perigos do tabaco. Apesar das evidências científicas claras, relativamente poucos usuários de tabaco tem a compreensão completa sobre a extensão dos riscos à saúde. Junto com campanhas publicitárias para o abandono agressivas, grandes imagens de advertência  nos maços de cigarro ajudam os fumantes a abandonarem.

Reforço na proibição do patrocíno, da promoção e da propaganda de tabaco. Estas proibições podem ajudar a conter os bilhões de dólares gastos pela indústria do tabaco em atividades de marketing todos os anos. Proibições parciais e restrições voluntárias têm pouco ou nenhum efeito.

Aumento nos impostos sobre o tabaco. Esta é a forma isolada mais efetiva de reduzir-se o fumo, particularmente entre os jovens. Além de ser um desestímulo, estes impostos geram recursos necessários para apoiar os programas e as campanhas publicitárias que ajudam as pessoas a abandonar o fumo.

Apenas 5% das pessoas no mundo estão protegidos por quaisquer destas estratégias, e nenhum país as implementou totalmente ainda. Mas isto é um ponto de partida para a mudança, graças em parte aos grupos locais que nós estamos apoiando mundo a fora e às autoridades governamentais  que estão começando a opor resistência às companhias de cigarro. Do México à Turquia e à China, governos estão começando a adotar as estratégias do MPOWER.

É claro que os céticos dizem que o problema do tabagismo está culturalmente enraizado demais para ser resolvido. Mas parte do saber lidar com um problema enraizado _ seja na saúde, na educação ou na segurança públicas_ envolve desafiar as expectativas das pessoas sobre o que é possível. Como sabemos pela nossa experiência na cidade de Nova York, quando as pessoas aceitavam níveis de criminalidade altos, nós tivemos níveis de criminalidade altos. Quando as pessoas aceitavam níveis baixos de graduados em ensino superior, nós tínhamos níveis baixos de graduados em ensino superior. E quando as pessoas aceitam níveis de consumo de tabaco altos, nós temos níveis altos de consumo de tabaco_ e 5 milhões de mortes tabaco-relacionadas por ano. Mas tem que ser deste jeito! E se mais pessoas, grupos comunitários, organizações internacionais e autoridades governamentais tomarem a iniciativa de dar um basta na principal causa de mortes preveníveis, ela não continuará a sê-lo.

Combater o tabagismo é a forma isolada mais eficaz para que nós possamos prevenir mortes prematuras nos países em desenvolvimento. Um bilhão de vidas estão na balança.

Bloomberg é o prefeito da cidade de Nova York.

URL: http://www.newsweek.com/id/160072

 

Newsweek

Health: The Way to Save Millions of Lives is to Prevent Smoking

 

Michael R. Bloomberg

NEWSWEEK

From the magazine issue dated Sep 29, 2008

Every day around the world, tragedies occur that are entirely avoidable: siblings burying siblings, spouses burying spouses, and children burying parents—all of them dying before their time. What is the leading cause of these preventable deaths? Is it tuberculosis? AIDS? Malaria? Each receives a great deal of media coverage along with hundreds of millions of dollars in funding—and rightly so. But there is another deadly epidemic that kills more people than all three diseases combined, and until recently, it received almost no public attention: tobacco use.

Tobacco has become the world's leading cause of death. How many deaths are we talking about? Picture a college basketball arena filled to capacity. Roughly that many people—14,000— die every single day from smoking tobacco. If we do nothing, tobacco may kill 1 billion people by the end of this century.

But only if we do nothing.

In New York, we have seen how effective anti-smoking programs can be. In 2002, I signed a law prohibiting smoking in all workplaces. There was a huge outcry, but then something happened: people loved it. Bars and restaurants saw their business increase. Waitresses kissed me and told me I had saved their lives. And pretty soon, cities and states around the country—along with England, Ireland, France, Italy and other countries with high rates of smoking—began passing similar laws. Along with the smoking ban, we raised cigarette taxes in New York, ran hard-hitting public-education campaigns and provided free nicotine patches. The result? After 10 years of seeing no decline in smoking, we've cut smoking rates by 21 percent—and we've cut teen smoking by more than 50 percent. There are 300,000 fewer smokers in New York City than there were six years ago.

While tobacco use is now declining in New York and some industrialized nations, though, it is growing in countries like Russia and Indonesia. More than 80 percent of tobacco deaths in the coming decades will be in developing countries, including China and India. But in talking to philanthropists and public-health experts, I realized that public-health dollars were tied up fighting other causes of death, and almost no funding existed for fighting tobacco.

Two years ago, I decided to change that. Building on an international tobacco-control treaty, I committed $125 million to a new global effort to reduce tobacco use (since raised to $375 million). Bill and Melinda Gates have joined this effort with their own $125 million commitment. And in partnership with the World Health Organization, we have developed a strategy called MPOWER, which includes six solutions that have been proved to save lives:

Monitor tobacco use and prevention policies. I always say, "If you can't measure a problem, you can't manage it." To determine the effectiveness of our efforts, it's essential to monitor which countries adopt which strategies—and how those policies affect smoking rates.

Protect people from second-hand smoke. Smoke-free environments are the only proven way to protect people—and as we have found in New York, they are popular, they improve health and they're good for business.

Offer to help people quit. Most smokers want to quit but find it hard to stop. Counseling and medicines—such as nicotine patches and gum—can triple the success rate.

Warn about the dangers of tobacco. Despite clear scientific evidence, relatively few tobacco users fully appreciate the extent of the health risk. Together with hard-hitting ad campaigns, large graphic warnings on cigarette packs help smokers quit.

Enforce bans on tobacco advertising, promotion and sponsorship. Such bans can help counter the billions of dollars the tobacco industry spends on marketing activities each year. Partial bans and voluntary restrictions have little or no effect.

Raise taxes on tobacco. This is the most effective single way to reduce smoking, particularly among the young. Besides creating a disincentive, these taxes generate the revenues needed to fund programs and advertising campaigns that help people quit.

Only 5 percent of the world's people are protected by any one of these strategies, and no country has fully implemented them all. But that is starting to change, thanks in part to the local groups we are supporting around the world, and to government officials who are beginning to stand up to the tobacco companies. From Mexico to Turkey to China, governments are starting to adopt MPOWER strategies.

Of course, the skeptics say that the problem of tobacco use is too culturally entrenched to solve. But part of taking on an entrenched problem—whether it's in health or education or public safety—involves challenging people's expectations of what is possible. As we know from our experience in New York City, when people accepted high crime rates, we had high crime rates. When people accepted low high-school graduation rates, we had low graduation rates. And when people accept high smoking rates, we get high smoking rates—and 5 million tobacco deaths a year. But it doesn't have to be that way! And if more people, community groups, international organizations and government officials take action to stop the world's leading cause of preventable death, it won't.

Fighting tobacco use is the single most effective way we can prevent premature deaths in the developing world. A billion lives hang in the balance.

Bloomberg is mayor of New York City. URL: http://www.newsweek.com/id/160072

Tradução: Equipe do Centro de Apoio ao Tabagista